Povo canta ‘Grândola’ no local onde serviu de senha para a revolução

Dezenas de pessoas entoaram aos primeiros minutos de hoje o “Grândola Vila Morena” na estreita rua Ivens, em Lisboa, à porta da Rádio Renascença, onde há 39 anos, a canção serviu de senha para a revolução de Abril.

A concentração visava recordar um dos momentos importantes das operações militares que desencadearam a revolução de 25 de Abril de 1974 e nesta evocação estiveram presentes militares, cidadãos anónimos que, de cravo vermelho e punho erguido, cantaram a música de José Afonso.

Em declarações à agência Lusa, Vasco Lourenço, capitão de Abril, sublinhou que é preciso “subverter a população, pô-la a lutar pelos seus interesses. Os portugueses não podem ficar amochados, com medo, levados por aquelas palavras de ordem de que não há alternativas. Há e nós temos que ser capazes de as encontrar”.

Junto à Rádio Renascença esteve estacionado um chaimite, motivo maior de curiosidade para quem se aproximou e quis registar o momento fotográfico. Atrás do veículo, mulheres vendiam cravos vermelhos a um euro cada.

Momentos antes, no Largo de São Sebastião da Pedreira, junto ao antigo quartel do Governo Militar de Lisboa, cerca de 60 pessoas, sobretudo militares hoje na reforma, juntaram-se para “viver e não apenas recordar” o espírito do 25 de Abril.

Em cima de uma cadeira, de microfone na mão e cravo vermelho ao peito, o coronel Andrade da Silva, que há 39 anos foi um dos operacionais da revolução, disse que este ano se devia viver a efeméride “com um novo conceito”, para que não seja só uma recordação.

Deram-se vivas à liberdade, cantaram-se as duas senhas da revolução – “E Depois do Adeus” e “Grândola Vila Morena” – e aprovou-se uma moção contra a corrupção, contra “a destruição das conquistas de Abril” e contra “o dramático empobrecimento de Portugal”.

Durante o encontro foram distribuídos cravos vermelhos pelos participantes e vários intervenientes foram subindo a uma cadeira – um improvisado palanque – para uma espécie de tribuna pública.

À agência Lusa, Andrade da Silva, um dos promotores do encontro, contrariou a ideia de reine algum marasmo entre os portugueses face à crise que o país atravessa.

“Não há marasmo nenhum. Há falta de liderança, há uma certa piolheira intelectual. Os senhores doutores, com as licenciaturas todas, que deixem os lugares bons e venham ao povo, falem ao povo e que a comunicação social cumpra o seu trabalho”, disse.

A opinião foi corroborada por Henrique Mendonça, oficial na reforma e outro dos promotores da iniciativa: “Procurando sensibilizar a população de que há 39 anos começavam as primeiras tropas a sair, com uma saída que já não tinha volta. A volta era o futuro.”

Lusa/SOL