Psicólogos do INEM com recorde de pedidos de ajuda

Mais de um quarto das acções dos psicólogos do INEM no terreno foram para travar tentativas de suicídio, segundo dados de 2013, ano em que este serviço de intervenção em crise recebeu um número recorde de apelos.

Esses apelos chegam por várias razões: a mãe cujo filho toxicodependente ameaça matar-se, o doente psiquiátrico que quer saber a quantidade de insulina suficiente para morrer, a testemunha que dá conta de alguém que se quer lançar de uma ponte.

Joana Anjos, uma das 12 psicólogas do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM, explicou à agência Lusa que nem sempre é necessário uma deslocação, bastando por vezes um aconselhamento telefónico para travar a situação de crise.

A estes psicólogos — que trabalham 24 horas por dia — chegam chamadas encaminhadas pelos colegas do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM, que identificam a necessidade de intervenção a nível psicossocial.

Um desses casos foi o de uma mãe que ligou para o 112 porque o filho toxicodependente ameaçava matar-se. A chamada foi encaminhada para o CODU, que identificou necessidade de apoio psicológico.

Enquanto uma ambulância e elementos da polícia se deslocavam ao local, uma psicóloga do INEM manteve-se em linha com a mãe, para averiguar eventuais necessidades de apoio e ajudar aquela mulher a lidar com a situação.

“Muitas vezes recebemos pedidos de ajuda dos cuidadores, que estão no limite”, disse a psicóloga à Lusa, adiantando que através destas chamadas é revelada a difícil história de muitas famílias.

Neste caso, não foi necessário activar o envio de um psicólogo para o terreno, o que aconteceria se o jovem se recusasse a ir ao hospital ou insistisse em tentar matar-se.

No ano passado, das 315 saídas de psicólogos, 85 foram para tentativas de suicídio (27%).

Os psicólogos chegam por vezes a ter de negociar com os potenciais suicidas a aceitação de ajuda.

“O objectivo destas pessoas é acabar com o sofrimento e não a morte em si. Vivem uma ambivalência”.

Até ao momento, todas as intervenções no terreno, em caso de tentativas de suicídio, têm sido bem-sucedidas: “Não podemos falhar. Nunca abandonamos a pessoa em risco”.

Contudo, as deslocações mais frequentes são as que envolvem morte inesperada, com familiares ou amigos no local. No ano passado, registaram-se 152 (48% do total).

Entre estas, estão alguns casos mediáticos como a tragédia com estudantes na Praia do Meco, o acidente que há seis anos vitimou 17 pessoas da universidade sénior de Castelo Branco na A23, a morte de pescadores de Caxinas ou a queda de um muro junto à Universidade do Minho.

Para estas tragédias, não basta ser-se psicólogo. Por isso, estes profissionais do INEM têm uma formação específica em intervenção psicológica em crise, emergências psicológicas e intervenção psicossocial em catástrofe.

No momento de apoiar um familiar ou amigo que presencia uma morte trágica, o grande objectivo dos psicólogos do CAPIC é “minimizar o impacto da situação”.

“O nosso abraço não é físico, embora possa haver toque. Validamos o sofrimento e deixamos chorar”, disse Joana Anjos, para quem as situações mais exigentes são as que envolvem a morte de crianças.

“Uma boa intervenção é quando vamos embora e não fazemos falta”, resume a psicóloga.

Pelo telefone, a equipa do CAPIC intervém noutro tipo de situações, como crises de ansiedade ou ataques de pânico, violação, abuso sexual ou violência doméstica.

Em 2013 registou-se um aumento de 60% de chamadas do CODU encaminhadas para os psicólogos: 5.465 em 2012 e 8.741 no ano passado.

Apesar do número de intervenções presenciais ter também aumentado, em 73% dos casos a situação resolveu-se sem o envio de psicólogos ao local.

Joana Anjos reconhece um aumento global dos pedidos de ajuda, mas não estabelece uma ligação directa com a actual crise, nem identifica um tipo de situação que tenha crescido de forma particular.

A exigência de algumas situações acompanhados pelos médicos e enfermeiros do INEM leva a que os psicólogos prestem também apoio aos próprios colegas.

Sobre os casos mais difíceis, até os psicólogos preferem não falar: “Nem gostamos de nos lembrar deles. Trabalhamos de forma a que eles desapareçam”.

Lusa/SOL