Ramadão

A noite era de festejos. Afinal, um amigo acabava com o ramadão de um mês sem beber e apetecia-lhe brindar com um jantar a abrir as hostilidades. Combinámos o local, não sem alguns desencontros, e lá rumámos para uma bela cervejaria que fica às portas de Lisboa, em Moscavide. Como adoro salada de buzinas e…

O capítulo seguinte teve paragem obrigatória na Lx Factory. Nova conversa, novo copo e nova cigarrilha para o vizinho do lado. Enquanto ele festejava o fim da ‘lei seca’, eu sujeitava-me à tortura de mais uma tentativa de deixar de fumar. Sendo que desta vez apenas me tenho apoiado nas pastilhas elásticas, que consumo a uma velocidade considerável.

Uma hora depois decidimos rumar até ao Cais do Sodré, onde quase todos os presentes estavam a fumar, ou pelo menos foi essa a sensação com que fiquei. É engraçado que quando nos confrontamos com um problema (ou assunto) parece que o mesmo está em toda a parte. E foi nessa altura que pensei: adoro fumar, mas não posso. Tenho de resistir e nada como fazê-lo num local onde tantos estão a fazê-lo com prazer.

Rimo-nos da contradição da noite, o fim de uma proibição e o quase início de outra, e lá nos mantivemos até sermos abordados por um dos chatos profissionais que são mais nocivos que milhões de cigarros ou hectolitros de whisky. Conversas descruzadas, olhava para o lado a fingir que não conseguia ouvir a conversa por causa da música, enquanto tentava não pensar no meu outro pesadelo.

Muito mais cedo do que o habitual, retirei-me em boa ordem, chamando um táxi que me levou a casa tranquilamente. No dia seguinte acordei cedo com vontade de ir fazer compras ao mercado de Campo de Ourique, onde Rui Vargas ‘vendia’ música embalada em fruta. Mas a visita teve de ficar para a próxima.

vitor.rainho@sol.pt