Resende. Do paraíso das cerejas ao microclima do Douro Vinhateiro

Sons? Só os da natureza. A cor? Verde. O rio é o Douro e as razões para querer ficar são várias. Dos monumentos megalíticos às sepulturas antropomórficas, casas senhoriais e monumentos que são património mundial, este é um concelho cheio de história que não dá para deixar de visitar

Apesar de ter nascido no Porto, muito cedo os meus pais decidiram mudar-se para Resende, onde estavam as origens da minha mãe. Cresci habituada à pergunta “Onde é que isso fica?” e nunca me cansei de explicar, sempre com vontade de que mais gente pudesse conhecer o que só o vale do Douro pode dar. 

Resende tem uma localização privilegiada e há muito que se ouvem promessas da extensão da autoestrada – um dia que lá chegue, todos irão ganhar muito. Não só os que lá vivem mudarão as suas vidas para melhor, mas também os que querem visitar a famosa Capital da Cereja e não gostam de curvas terão a vida facilitada. 

Para os que vêm de carro, as cidades do Porto, Viseu e Vila Real ficam a pouco menos de uma hora da vila resendense, sendo as duas cidades mais próximas Lamego e Régua (ambas a 40 minutos de carro). Os percursos mais aliciantes, porém, fazem-se de barco e de comboio, tendo o Douro como paisagem principal. A segunda é uma viagem numa ferrovia por muitos considerada das mais bonitas do mundo.

Resende não nasceu para os que não sabem apreciar o silêncio, o canto dos pássaros ou o acordar dos galos. Aliás, disso é prova “O Inquieto”, primeiro filme da trilogia de Miguel Gomes “As Mil e Uma Noites”, que com “A História do Galo” eternizou um conflito de famílias que nasceu da provocação dos dotes vocais da ave.

Quem circula pelas terras deste concelho, que economicamente é um dos mais pobres do país, mas tão rico culturalmente, terá de se habituar aos “bons dias” que se dizem na rua, aos levantares dos bonés dos mais velhos e ao resto da simpatia nortenha.

Diz-me a experiência de quem lá viveu tantos anos, e que sempre parece tardar tanto em voltar, que para descansar a mente e o corpo é um dos melhores cantos à disposição dos que vivem no norte do país. 

As lagoas, piscinas naturais e pequenas quedas de água, os desportos náuticos, os parques de merendas e as quintas que marcam o início da zona do Alto Douro Vinhateiro inspiraram escritores, artistas e músicos de várias gerações, talvez porque não só a paisagem mas também a gastronomia local são de tal forma especiais que não há almas nem estômagos que resistam. 

Um concelho de  História As descobertas arqueológicas indicam que o povoamento da região começou na pré-história. As testemunhas são as mamoas e as antas no monte de S. Cristóvão, atrações típicas de todos os que são fascinados pela História. 

O nome do concelho parece ter origens nos visigodos, mas sabe-se que foram vários os que por lá passaram. Desde os celtas aos lusitanos, passando, mais tarde, pelos romanos e pelos mouros – todos eles deixaram património que ainda hoje é possível admirar, como a Cadeira dos Árabes, a Igreja Romana em São Martinho dos Mouros, o Penedo de São João em Freigil, o Mosteiro de Cárquere, o Convento de Barrô, o Castro e os solares.

Para os mais curiosos, é obrigatório o passeio pelo Circuito das Paisagens Serranas, o Circuito da Água, o Circuito Queiroziano e o Circuito Religioso.

Onde comer e dormir Seja no Airbnb, no Booking ou no TripAdvisor, são muitas as casas de férias que irá encontrar para uns dias de descanso perfeitos. Exemplos de um bom local de repouso são a Casa da Graça, a Casa das Três Magnólias, a Casa Cardoso ou mesmo a Quinta de Nadais. Há ainda hotéis nas redondezas e, se quiser algo mais em conta, tem sempre alguns albergues locais para escolher.

A gastronomia é famosa em todo o país, não fosse esta a terra do anho assado no forno, cheio de segredos ancestrais (como os alguidares de barro preto e os fornos de lenha). Esta é uma das grandes especialidades da região, não deixando de parte os fumeiros, o bazulaque ou o cabrito. As refeições serão bem servidas em restaurantes como o Gentleman, o Douro à Vista ou o Bengalas. 

Agora que lhe abri o apetite, já está pronto para fazer as malas? 

Já que anda por aqui…

Cavacas de Resende – As cavacas de Resende são uma das principais atrações gastronómicas do concelho. A receita mantém traços cujas origens ultrapassam a memória dos que habitam a região. É um doce tradicional em que os ovos são batidos à mão, como manda a moda antiga, e cozidos em fornos de lenha. O manjar atrai os visitantes e por isso tem direito a festival em março, no Pavilhão Multiusos de Caldas de Arêgos.

Mosteiro de Cárquere – O Mosteiro de Santa Maria de Cárquere faz parte da Rota do Românico e é um monumento obrigatório para quem visita o concelho de Resende, não tivesse sido este o local onde o pequeno infante Afonso Henriques se terá curado a pedido do seu aio Egas Moniz que, reza a lenda, pediu a intercessão da Virgem Maria em pleno século XII.

Ribeiro Cabrum – O ribeiro que desagua no rio Douro proporciona vários recantos secretos para os admiradores da natureza.

Termas das Caldas de Arêgos – Estas termas são das mais reconhecidas na região Norte de Portugal. Depois de criada a albergaria, mandada construir pela rainha D. Mafalda, no século XII, criaram-se os balneários termais para a monarca. As Termas de Caldas de Arêgos foram reconstruídas integralmente em 1990 e as suas águas minerais naturais são utilizadas em várias intervenções medicinais. É destas águas que surgem também os sabonetes “Douro Memories”, que recriam a fórmula secular dos produtos com propriedades antioxidantes, antibacterianas e estimuladoras de desenvolvimento celular, indicadas para o tratamento de doenças de pele.

Casa de Tormes – Fica do outro lado do rio Douro, já no concelho de Baião, mas quem visita Resende, por norma, não deixa escapar a Fundação Eça de Queiroz. Cenário real/ficcional do famoso e último romance de Eça “A Cidade e as Serras”, é palco de uma visita guiada ao íntimo do escritor, com pormenores da sua vida e obra, dando a sensação de que se entrou numa máquina do tempo até ao esplendor artístico e literário do século XIX.