Sánchez acusa “El País” de ter conspirado contra governo de esquerda

Ex-líder do PSOE afirma que os socialistas e Podemos estão condenados a entender-se e vai concorrer para recuperar a liderança do partido 

A entrevista foi exibida no domingo à noite. O ex-líder do PSOE garantiu que os barões socialistas que o demitiram tinham de contar com ele. “Não estou morto, aqui estou.” Pedro Sánchez e os seus partidários pretendem que as primárias para a liderança do partido sejam convocadas já em janeiro e estão confiantes em ganhar a batalha com o voto dos militantes socialistas. 

O antigo líder dos socialistas não tem dúvidas de que foi derrubado por uma conspiração que incluiu os grupos económicos e de comunicação espanhóis, que tudo fizeram para impedir um governo de esquerdas. Pedro Sánchez acusou diretamente a direção do diário “El País” e o ex-presidente da Telefónica, César Alierta, de estarem por detrás das manobras que o derrubaram da liderança do PSOE e permitiram que os deputados socialistas viabilizassem um governo dirigido por Mariano Rajoy, indo contra as promessas com que foram a eleições de que nunca “viabilizariam ativa ou passivamente” um governo do PP presidido por Rajoy.

Na entrevista do programa “Salvados” da estação de televisão La Sexta, o antigo chefe dos socialistas revelou que o patrão da Prisa [grupo do “El País”], Juan Luis Cebrián, lhe fez saber que faria tudo contra a possibilidade de um governo com socialistas e Podemos e que pretendia que o executivo do PP fosse viabilizado pelos socialistas. “A administração do ‘El País’ disse-me que queriam que governasse Rajoy e que não iam ajudar a que houvesse um governo progressista”, afirmou Sánchez na entrevista, acrescentando: “Creio que houve responsáveis empresariais que influenciaram e tentaram determinar [a solução de governo] através dos meios de comunicação social. Trabalharam para que houvesse um governo conservador neste país.”

O antigo líder socialista defendeu a sua gestão e recusa em apoiar o PP, dizendo que isso não só seria contra tudo o que foi dito na campanha eleitoral do partido como vai sair caro ao PSOE. No entanto, reconheceu ter cometido um erro depois das eleições de dezembro ao ter evitado um acordo com o Podemos. “Cometi um erro: assinar só com os Ciudadanos, e não com o Podemos.”

Sobre o papel do dirigente histórico do PSOE, Felipe González, e a sua campanha contra um acordo com o Podemos, Sánchez foi perentório: “Não é Deus.” “Com menos 30 anos, Felipe González teria mantido o ‘não é não’ a Mariano Rajoy.”

Para impedirem a possível vitória de Pedro Sánchez em primárias, os barões do PSOE, capitaneados pela presidente do governo autónomo da Andaluzia, Susana Díaz, pretendem atrasar a marcação de um congresso do PSOE para o verão de 2017. Esta convocatória tardia de um congresso daria, segundo fontes do partido citadas pelo diário “El Mundo, tempo para “pacificar a organização”e “tratar feridas”. “O que não se pode fazer é convocar um congresso à pressa só para satisfazer as aspirações pessoais de Sánchez, que é quem nos levou a este poço”, afirma ao “El Mundo” um deputado apoiante de Susana Díaz. 

Para Pedro Sánchez, a questão é a inversa: se existe uma direção de facto do PSOE, ela tem de ser legitimada pelos militantes e o congresso não pode ser atrasado por conveniências desta: “Se Susana Díaz quer liderar o partido tem a obrigação de apresentar-se ao congresso”, defendeu na entrevista televisiva o ex-líder dos socialistas.

Para já, a atual direção do PSOE vai processar os 15 deputados socialistas que mantiveram o voto “não” à indigitação de Mariano Rajoy como presidente do governo; e a comissão gestora do partido vai levar ao comité federal a proposta de rever o acordo com o Partido Socialista da Catalunha, que votou também contra Rajoy.