Seguradoras adaptam preços a risco de inundações

As companhias de seguros vão adaptar os preços praticados ao grau de perigosidade de cada zona no que se refere ao risco de inundações por causa das alterações do clima, revelou hoje o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS).

Com base num trabalho desenvolvido por investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, “vamos reorganizar os nossos modelos de conhecimento e fazer uma classificação deste risco de uma maneira diferente”, avançou à agência Lusa Pedro Seixas Vale, da associação do sector.

“Vamos atribuir a todas as zonas do país um grau de perigosidade em relação a este risco de inundações e vamos definir de uma forma mais correcta as tarifas a fazer aos clientes”, acrescentou.

O projecto “Cartas de Inundações e de Risco em Cenários de Alterações Climáticas” (CIRAC) é apresentado hoje e resultou no primeiro mapa de vulnerabilidade do país, detectada principalmente em zonas costeiras, mas também em vales ou áreas baixas.

O estudo, coordenado pelo especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos, juntamente com Pedro Garrett Lopes, avaliou o risco de inundações em Portugal continental, com uma análise mais detalhada em cinco locais seleccionados com base na informação existente sobre danos causados e densidade demográfica: baixa do Porto, Gaia, Coimbra, baixa de Lisboa e Algés.

“Há algumas mudanças que estão indicadas no trabalho, há zonas de maior perigosidade e outras de menor perigosidade e as seguradoras definirão a maneira como devem adaptar os seus preços em relação a esta situação”, apontou o presidente da associação, Seixas Vale.

O sector segurador “estava a sentir que o país está a ter um aumento do número de fenómenos que provocam sinistros elevados, como as catástrofes naturais”, por isso, pediu aos investigadores que actualizassem as companhias com os últimos conhecimentos nesta área, um trabalho que se prolongou por três anos.

“Tudo isso permitiu chegar a um conhecimento que nos dá um indicador da vulnerabilidade que existe ao risco de inundações em Portugal, um estudo feito por freguesias, portanto bastante detalhado, e dá indicação precisa em relação a zonas especiais que têm maior probabilidade de sinistros graves”, explicou Pedro Seixas Vale.

Nos valores a pagar pelos segurados, “haverá uma diferenciação entre a parte individual, os edifícios e residências, mas também a parte comercial, a industrial, das estruturas físicas e dos conteúdos”, referiu ainda.

O responsável recordou que a precipitação média está a diminuir, mas o número de dias com alta precipitação está a aumentar, ou seja, “há mais água em menos tempo”, o que cria possibilidades de maiores inundações, uma situação agora transmitida “de uma maneira mais rigorosa”.

O estudo vai estar disponível online para quem quiser conhecê-lo, “sobretudo para municípios e processos de urbanismo, principalmente nas zonas mais perigosas, para ter medidas” de prevenção para este risco.

A Associação Portuguesa de Seguradores pretende ainda tentar sensibilizar a população portuguesa para a necessidade de cobrir este risco e, como as companhias fazem repartição de risco com resseguradores internacionais, vão dar-lhes conhecimento das conclusões deste trabalho.

320 milhões em 8 anos por sinistros graves devido a clima

As companhias seguradoras registaram anualmente um sinistro grave relacionado com o clima desde 2006, o que levou ao pagamento de 320 milhões de euros a 65 mil segurados, revelou hoje o presidente da associação dos seguradores.

Entre 2006 e 2014, “tivemos um sinistro grave por ano, portanto temos oito sinistros graves neste período”, incluindo os temporais deste ano, disse à agência Lusa Pedro Seixas Vale.

“Indemnizamos, por virtude destes oito sinistros, 65 mil segurados, [devido] a tempestades, tornados, inundações ou outros fenómenos meteorológicos e climáticos e foram pagos cerca de 320 milhões de euros” pelas seguradoras, avançou o responsável.

Lusa/SOL