Sofia. A mais espanhola das gregas

Aos 81 anos, Sofia Margarida Vitória Frederica, a princesa grega que prescindiu da religião ortodoxa na qual foi criada para cumprir as suas funções num país católico, parece determinada em continuar a fazer o que sempre fez até aqui. E nem de Espanha, nem da Zarzuela, deverá arredar pé.

Sofia. A mais espanhola das gregas

arecem operar como uma balança bem afinada: enquanto, numa ponta, Juan Carlos não pára de se afundar aos olhos dos espanhóis, a sua mulher, a Rainha Sofia, princesa da Grécia, continua a subir no extremo oposto. De momento, a mãe do Rei Felipe VI é tida como o mais popular dos membros da família real espanhola, um lugar que foi conquistando desde os anos sessenta, década em que se casou com o antigo monarca de Espanha. 

A popularidade de Sofia, assim como a simpatia e serenidade com que trata a comunicação social – e vice-versa – parecem reluzir ainda mais na última década, na qual o seu marido foi colecionando uma série de escândalos pessoais e judiciais e que culminaram, como se sabe, com a saída de Espanha do Rei emérito Juan Carlos. A súbita viagem do Rei e o facto de a Casa Real não ter divulgado o local do seu paradeiro foi, na semana passada, um dos assuntos mais esmiuçados. E a opinião da imprensa espanhola parecia ser unânime: muito pouca gente conhece o destino de Juan Carlos, e Sofia não estará incluída nesse lote. 

Nada que cause surpresa. Juan Carlos e Sofia viviam há muito vidas separadas, e a decisão de a antiga Rainha continuar a viver na Zarzuela e, inclusivamente, manter uma agenda oficial, como já foi confirmado, não causa surpresa entre os analistas espanhóis. 

De humilhada a amada

De férias no palácio de Marivent, em Palma de Maiorca, juntamente com a sua irmã Irene, Sofia tem passado ao lado do escândalo e a Zarzuela tem sublinhado que a Rainha emérita nada tem a ver com os processos judiciais nos quais Juan Carlos está envolvido. As denúncias no cerne dos dois processos nos quais o antigo Rei está envolvido partiram de uma antiga amante do rei, Corinna Larsen – que se apresentava como Corinna zu Sayn-Wittgenstein -, sendo que os affairs do antigo monarca espanhol não são, de todo, uma novidade.

Se, no início, as crónicas infidelidades do marido lhe chegaram a valer a alcunha de ‘Rainha humilhada’, com o passar dos anos a forma como Sofia lidou com o assunto – separando-se emocionalmente mas continuando a manter a família unida e a cumprir os seus deveres de Rainha – acabou por granjear a simpatia do povo espanhol. 

Para tal popularidade tem sido também importante a forma como é claramente reverenciada por outros membros da casa real, principalmente pelo filho, o Rei Felipe VI, que em 2018, por ocasião das homenagens pelo 40.º aniversário da Constituição, elogiou publicamente a mãe pelo "apoio permanente e comprometido". 

E apesar da relação tensa com a nora, a Rainha Letizia, Sofia parece ser bastante próxima das netas. No ano passado, durante o seu primeiro discurso enquanto herdeira do trono, durante a entrega dos Prémios Princesa das Astúrias, no Teatro Campoamor de Oviedo, a princesa Leonor, filha de Felipe e Letizia, homenageou a avó paterna: "Ela sabe o importante que é para mim tê-la aqui nesta cerimónia que significa tanto para as Astúrias e para toda a Espanha (…) Este momento será inesquecível para mim e, como disse o meu pai aqui mesmo, quando tinha a minha idade, ‘vou levá-lo para sempre no fundo do meu coração’".

 

Um equilíbrio periclitante

Apesar de ter continuado a manter as aparências ao longo dos anos, dentro da Zarzuela não se viverá o mais saudável dos ambientes. "No fundo odeiam-se todos: Sofia com Juan Carlos I, Sofia com Letizia, Letizia com Juan Carlos I, Letizia com Cristina, Letizia com Elena e um grande etc.", escrevia o El Nacional.

A juntar a este difícil equilíbrio familiar do qual Sofia sempre fez parte, estava a antigamente tensa e agora inexistente relação com o homem com quem se casou a 14 de maio de 1962, em Atenas. Sofia tinha 23, ele 24 anos, e nem na primeira década de casamento Juan Carlos terá sido fiel. Num livro não autorizado publicado em 2017 por Amadeo Martínez Inglés, um coronel aposentado com uma reputação controversa em Espanha, são descritos os casos extraconjugais de Juan Carlos. O título deixa pouca margem para dúvidas: O Rei das 5.000 Amantes. 

Ao longo das décadas, enquanto os casos foram minimamente abafados, Sofia fingiu publicamente que nada se passava. Mas em 2012, na véspera de completarem cinquenta anos de casados, Juan Carlos embarcou na caçada no Botswana que viria a marcar o início da sua derrocada. Espanha atravessava uma crise económica profunda e, para mais, a presença da amante de então não foi praticamente escondida. Diz a imprensa da especialidade espanhola que, nessa altura, a ainda Rainha de Espanha terá pensado em avançar com o divórcio e chegou a falar disso ao filho. Terá sido também aí que fez algumas exigências, não conhecidas, para continuar a manter, pelo menos no papel, a relação. Dois anos depois, Juan Carlos abdicou do trono e nos anos seguintes Sofia manteve até agora uma preenchida agenda institucional.

Aos 81 anos, Sofia Margarida Vitória Frederica, a princesa grega que prescindiu da religião ortodoxa na qual foi criada para cumprir as suas funções num país católico, parece determinada em continuar a fazer o que sempre fez até aqui. E nem de Espanha, nem da Zarzuela, deverá arredar pé.