Tensão à esquerda atinge PSD

A ‘geringonça’ anda turbulenta por causa do OE 2019, mas isso não está a ajudar o PSD. Deputados anti-Rio ameaçam com congresso extraordinário. Leitão Amaro põe água na fervura: ‘Não há dúvidas, nem hesitações’. 

Tensão à esquerda atinge PSD

A turbulência à esquerda não está a ajudar o PSD. O novo drama no partido de Rui Rio é a posição que os deputados vão assumir no Orçamento do Estado para o próximo ano se o PCP ou o Bloco falharem a António Costa. Alguns deputados ameaçam renunciar ao mandato e avançar com um congresso extraordinário se o PSD salvar a geringonça. 

O assunto foi abordado na reunião do grupo parlamentar, na quinta-feira, com deputados de primeira linha a criticar a estratégia de Rui Rio. O ex-líder parlamentar Hugo Soares foi um dos presentes que criticou a aproximação ao PS e defendeu que o partido não pode ter uma atitude dúbia. A pressão dos deputados levou Fernando Negrão a garantir: «Votaremos contra o Orçamento». À saída, em declarações aos jornalistas, o líder parlamentar foi menos taxativo e disse que «tendencialmente, usando esta expressão, o voto do PSD poderá ser contra o Orçamento». 

Os críticos não ficaram descansados e, no dia seguinte à reunião, o jornal Público dava conta de que há deputados a admitir renunciar ao mandato ou mesmo avançar com a convocação de um congresso extraordinário no caso de o PSD viabilizar o documento. 

O vice-presidente do grupo parlamentar, António Leitão Amaro, põe água na fervura e garante que «está mais do que esclarecido que não há nenhuma mudança de orientação e de atitude do PSD relativamente ao Orçamento». 

O social-democrata diz ao SOL que existe uma «divergência profunda» em relação à estratégia orçamental do Governo socialista. «Não há dúvidas, nem hesitações. Creio que os deputados não têm dúvidas». 

Leitão Amaro está, no entanto, convencido de que a esquerda vai aprovar o último Orçamento deste Governo e que «a tensão é uma encenação». 

Os mais próximos de Rui Rio lembram que o PSD nunca anunciou o voto contra com tanto tempo de antecedência por uma questão institucional. Passos Coelho, no último Orçamento, anunciou o sentido de voto do partido  um mês antes da aprovação do documento.

 

Pontal perde estatuto de rentrée. Não há dinheiro

A novidade é que nunca houve tantas dúvidas sobre a coesão da geringonça e a pressão passou a estar também do lado do PSD. A posição de Silva Peneda, ministro sombra para a área da solidariedade, a defender que o partido deve apoiar o Governo se a esquerda não viabilizar, aumentou a confusão e a desconfiança dos críticos. As declarações do líder do partido estão, porém, longe de admitir a possibilidade de um voto favorável. Rui Rio já garantiu que «será muito difícil que o PS consiga apresentar um Orçamento que esteja de acordo com o PSD» e que prefere a instabilidade a um  «documento mau». A única certeza é que haverá eleições antecipadas se o Orçamento for chumbado. Marcelo fez questão de deixar isso claro com muito tempo de antecedência.

Entretanto, o presidente do PSD, Rui Rio, já tinha dado sinais de que não estaria disponível para usar a festa do Pontal, em Quarteira, como rentrée do partido. A distrital do PSD/Algarve percebeu a sua  intenção logo em maio com a indisponibilidade de agenda do líder durante o mês de agosto para participar no evento. 

A decisão de acabar com Quarteira como um dos momentos de rentrée política social-democrata  foi decretada na última comissão política do PSD.

As razões são várias: o PSD está com dificuldades financeiras e a festa custa aos cofres do partido 70 mil euros. A imagem tradicional da chegada de autocarros com militantes de todo o País também não  agrada a Rio, nem é o seu estilo. Assim, a Festa do Pontal passa a ser um encontro de militantes algarvios com a presença do presidente social-democrata, algures na primeira quinzena de setembro.

A verdadeira rentrée será feita em Castelo de Vide, com a Universidade de Verão, organizada pela JSD e pelo Instituto Sá Carneiro.

A história da Festa do Pontal tem sido marcada de altos e baixos, pela ausência de líderes – como Manuela Ferreira Leite – ou por dificuldades financeiras. O atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, chegou a pagar do seu bolso cinco mil contos (25 mil euros ) para manter a festa. Na altura era  líder social-democrata e o PSD vivia dificuldades financeiras. Vivia-se o ano de 1997. 

A festa tem 40 anos de tradição, mas o momento mais alto foi na era do cavaquismo, com o então líder do PSD a usar o Algarve para a rentrée política. Passos Coelho procurou seguir a tradição e até convidou o CDS para o evento em 2015. 

Com Cristina Rita