Tese da conspiração contra Strauss-Kahn alastra em França

Detenção do director do FMI foi anunciada em primeira mão – e antes de tempo – por um militante do partido de Sarkozy. Strauss-Khan aludiu em Abril a um plano para ‘inventar uma história’ semelhante.

terá dominique strauss-kahn, número um do fundo monetário internacional e o socialista favorito na corrida à presidência francesa, sido vítima de uma conspiração? «no mercado de sarcelles, na internet, mas também entre muitos políticos de esquerda e de direita, a hipótese é levantada, ainda que sem provas, após a detenção do director do fmi», afirma o libération.

para além do choque e incredulidade geral, a tese parte do facto do escândalo ter sido anunciado em primeira mão, antes de qualquer órgão de informação norte-americano ou francês, por um jovem militante da ump de sarkozy, através do twitter. e antes de tempo. 

jonathan pinet, estudante da sciences po em paris, anunciou a detenção de dsk apenas 19 minutos após o dirigente socialista francês ter sido retirado de um avião pela polícia nova-iorquina. mas a mensagem referia-se a uma detenção «há cerca de uma hora», num «hotel de nova iorque». ou seja, a informação circulava antes de strauss-kahn ter sido interceptado pelas autoridades.

o libération considera «plausível» que pinet soubesse do caso com uma ainda assim «surpreendente» celeridade, dada a sua integração «numa comunidade juvenil com múltiplos contactos», referindo-se aos estudantes da instituição de elite parisiense. mas questiona a origem da informação de uma suposta detenção cerca de 40 minutos antes desta ter efectivamente ocorrido. «provavelmente, terá sido mal informado pelo dito amigo», é escrito no diário francês.

depois de pinet, apontam os defensores da tese da armadilha, a informação foi retransmitida pelo site atlantico, o mesmo que publicou há dias a incómoda fotografia de dsk a entrar num luxuoso porsche – que era de um amigo, e não do líder socialista. tanto aquela publicação como o jovem militante da ump desmentiram junto do jornal le post qualquer envolvimento numa suposta conspiração.

entrevista premonitória

outros recordam uma entrevista daquele que até domingo era o mais provável candidato presidencial do ps francês, a 28 de abril, também ao libération. dsk admitiu ser possível que o tentassem prender, imaginando mesmo um cenário conspirativo: «uma mulher que é violada num parque de estacionamento. uma mulher a quem prometem 500 mil ou um milhão de euros para inventar tal história».

a ideia de uma campanha para denegrir a imagem do pré-candidato socialista também ganha força quando recordadas as últimas manchetes feitas com dsk. a já referida notícia da atlantico, de que o líder do fmi se fazia passear num porsche, teve como origem o círculo próximo do presidente sarkozy, que dias antes da divulgação da imagem declarara que ele, apelidado de «presidente dos ricos», «não era nada ao lado de strauss-khan».

também na semana passada, foram revelados dados sobre o património imobiliário de dsk, que inclui casas em marrocos e nos estados unidos. e dias depois, o france-soir acusava strauss-kahn de vestir fatos de 35 mil dólares.

um homem ‘vulnerável’, mas não tanto

tanto rivais políticos como colegas de partido convergem ao afirmar que dsk tem «um problema» com as mulheres, nota o le monde. mas também é generalizada a sugestão de uma possível armadilha.

«eu acho que provavelmente montaram uma armadilha contra dominique strauss-kahn, e que ele caiu», afirmou a presidente do partido democrata-cristão christine boutin. quem é o autor da conspiração? «tanto podia ser alguém do fmi, como da direita francesa, ou da esquerda francesa», admite.

dominique paillé, que até janeiro foi porta-voz da ump, diz acreditar que dsk, «vulnerável» perante as mulheres, pisou uma «casca de banana».

«não podemos deixar de pensar numa armadilha», disse o ministro francês para a cooperação henri de raincourt (ump).

mais próxima de strauss-kahn, a socialista michèle sabban sugere um «complô internacional» contra o francês. «mais do que a candidatura presidencial, quiseram foi decapitar a liderança do fmi», acusou sabban, para quem dsk era, por inerência das suas funções num cenário de crise internacional, «o homem mais importante do mundo a seguir a obama».

a ‘queda’ do director-geral do fmi em imagens

pedro.guerreiro@sol.pt