Vinhos à beira-mar

Quem visita o Algarve rende-se ao esplendor da água. Procura a praia, o sol, o golfe, a doçaria regional, o peixe fresco, o contacto com os animais marinhos, os parques aquáticos. Não se pensa noutros líquidos a não ser na água, mas a região tem vinha e vinho desde tempos remotos que antecedem a nacionalidade.

cultural e tecnologicamente muito avançados, os muçulmanos – que governaram silves até ao século xiii – consideraram, à época, o burgo algarvio tão importante como sevilha. a sua passagem produziu efeitos notáveis ao nível da agricultura, tendo introduzido os citrinos e várias técnicas de enorme actualidade, como a irrigação.

o vinho sempre foi consumido em silves, facto comprovado pelos belos e inúmeros poemas, escritos por autores de origem árabe que ali viveram. após a reconquista, os cristãos aproveitaram e incrementaram a economia vitivinícola algarvia. pensa-se que as naus que descobriram a madeira, zarpando do algarve, levaram os primeiros pés de vinha para a ilha atlântica. em tempos mais recentes, as sub-regiões de lagos, lagoa, portimão e tavira foram tão importantes que mereceram a distinção de denominação de origem. a pressão urbanística extinguiu, na prática, quase todas estas doc. a maior e melhor proposta de vinhos algarvios aproveita a amplitude das castas internacionais, surgindo com a designação regional ou ig algarve, incorporando uvas plantadas em todo o distrito de faro.

a partir do nada, como uma tormenta de verão, o algarve acolhe, actualmente, mais de 20 produtores de vinho (e muitos outros de uva), facto que torna esta actividade num contribuinte importante para as actividades turísticas alternativas ao sol e à praia, para além da excelência de um produto bem acolhido e muito procurado. a produção ao lado do consumo é um dos factores que maior influência tem na localização de uma nova vinha e adega, e que garante a menor pegada de carbono, ou seja, o menor impacto ambiental de um vinho, desde a vinha à prateleira ou mesa de restauração. é isso que acontece com a produção algarvia, vendida quase toda no seio da própria região.

a revitalização desta actividade e os níveis de visibilidade atingidos merecem o meu destaque e proposta de visita às adegas que, desde a serra algarvia até à praia, passando pelo rico barrocal dos citrinos, das amêndoas, dos figos, da alfarroba e das boas uvas, dão corpo aos vinhos que provei e aprovei.

anibal.coutinho@sol.pt