Assistimos a uma Europa sem alma, sem comando, cheia de tiques de correcção política, palavrosa e convertida em euros. Deixámos de ter estadistas que viam longe, para dar lugar à política que não enxerga para além do curtíssimo prazo.
Esta pandemia mostrou que a solidariedade entre países é uma mera palavra. Quando surge uma crise cada um preocupa-se apenas consigo.
Ninguém passa incólume por uma crise destas dimensões. O endividamento terá aumentado, assim como os seus custos. Nem todas as empresas resistirão.
É perante calamidades como esta que estamos a viver que as pessoas revelam quem realmente são, no seu melhor e no seu pior.
Como se o dia escurecesse a meio. Porque não se vê bem como, nem quando, nem até quando. Daqui a apreensão, inevitável. Tanto mais quanto os meios parecem poucos para responder já e a tudo.
Tem-se abusado da metáfora da guerra, a meu ver, mal. Uma vez, parece atraente, para conseguir efeitos de união e coesão, coragem e resiliência, ânimo e determinação vitoriosa. Mas a insistência corre o risco de distrair e desviar o foco do tipo de esforço a fazer.
Entende-se e justifica-se plenamente a declaração do estado de emergência, uma forma mitigada de resposta excecional.
Em Espanha, os ‘caçorolaços’ exigem que o dinheiro da corrupção da família real seja investido na saúde pública. Mas isso não basta.
Temos a obrigação de compreender que não há recursos suficientes para fazer e desfazer e que é preferível sofrer agora um pouco a comprometer o futuro.
Temo que a compreensível alegria que a todos inundará quando a notícia de que vencemos esta batalha for dada, nos conduza para a percepção de que somos invencíveis e de que tudo pode continuar como até aqui.