1. Cavaco Silva, o nosso Salazar democrático, permitiu que surgissem António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa. Não como figuras distintas (felizmente, não precisariam de tão grandiosa figura para se cumprirem), mas como personagens do seu tempo.
Quando António Costa ‘tomou’ o poder, critiquei-o asperamente. Não me pareceu que o seu resultado eleitoral lhe permitisse ter a legitimidade política para governar o país. Passos Coelho tinha ganho as eleições, somando os votos não precisou do CDS para garantir mais deputados do que os socialistas. A jogada de Costa era de puro instinto…
Não creio que a falta de interesse pelas eleições presidenciais seja o resultado da falta de paciência dos portugueses com a política e os políticos. Talvez até o contrário, revela mais o desinteresse dos políticos pelo cargo de Presidente da República.
A recusa de Nuno Melo ir a jogo é uma excelente notícia para o CDS. Se tivesse concorrido à liderança ganharia com o apoio das principais distritais do partido, mas o partido voltaria a ser o do táxi.
Em tempo de campanha eleitoral para a Presidência da República (a mais triste de que tenho memória), o país atravessa uma crise de que dificilmente se recomporá. Não por causa do endividamento, do défice, das desavenças parlamentares ou da desagregação do sistema financeiro – mal ou bem, existe a esperança de que se encontrem soluções…
A decisão de Paulo Portas tornou inevitável a saída de Passos Coelho da liderança do PSD – se o ex-primeiro-ministro não tomar a iniciativa perderá uma grande parte do capital político conquistado nos últimos anos.
A escolha de Tiago Brandão Rodrigues para a pasta da Educação é uma boa surpresa, um ar fresco após a passagem de Nuno Crato que, como a maior parte dos intelectuais, incorreu em dois pecados capitais no exercício de um cargo de poder: foi arrogante na catalogação das suas certezas e desajustadamente agressivo para provar…
É o que se conclui sobre o delicado processo negocial entre as esquerdas, de cujo resultado se esperam notícias seguras somente neste fim de semana. Ao tempo em que foi anunciada, a tal «solução» não era mais do que uma hipótese ou uma esperança, tudo indicando que Costa tomou, cedo de mais, os desejos por…
Um dia, há cerca de cinco anos, numa das últimas conversas com o meu pai, perguntei-lhe se colocava a hipótese de apoiar a candidatura de Fernando Nobre – a pergunta não era inocente, ele já era comunista antes de eu nascer e, pormenor que me parecia relevante, dava-se bem com o criador da AMI e…
A maioria dos analistas (a começar por mim próprio), precisa de pedir a Apolo que abençoe um novo oráculo de Delfos. Sabemos que a realidade supera a ficção, mas convém não exagerar – parecia óbvio que Costa poderia ganhar facilmente as eleições ao contrário do ‘pobre’ Seguro; parecia claro que depois de uma austeridade militante…
Cavaco Silva vai esgotar todos os seus recursos para viabilizar o governo liderado por Passos Coelho. Na sua comunicação ao país o Presidente da República deixou claro que não empossará (em qualquer circunstância) António Costa. Cai assim por terra a possibilidade de uma coligação de esquerda, cai por terra também a estratégia de sobrevivência, verdadeira…
Um governo com o Partido Comunista e o Bloco não é uma notícia necessariamente má. Os dois partidos representam um milhão de votos que lhes foram entregues por pessoas que não se sentem representadas numa democracia de mercado. Um problema que é uma doença no regime, convém que não alastre sob pena de o sistema…
António Costa ganhou o debate mais esperado. E colocou-se numa posição invejável para vencer as próximas legislativas. Vários comentadores afirmaram por estas horas que faltam vinte dias, demasiados para que se possa garantir para que lado cairá o pêndulo da balança. É verdade, mas não é absolutamente linear que as eleições não tenham ficado encaminhadas,…
Há uma semana que o país ouve falar de cartazes. Políticos, comentadores, jornalistas e fóruns populares peroram sobre estética, ‘tiros nos pés’, marketing, publicidade e de tudo o que, teoricamente, menos deveria interessar. Pequenas coisas e folclore que tornam os debates políticos parecidos com as mesas-redondas de futebol. Por vezes, preciso de um minuto para…
A União Europeia nasceu com uma matriz utópica que a realidade e as suas circunstâncias transformaram num projecto ferozmente pragmático – os ideólogos desta construção partiram do princípio de que projectos radicais nunca poderiam ganhar eleições nacionais, isso seria paradoxal, uma regressão impossível. A paz, o bem-estar de uma maioria, uma ideia de progresso, de…