Alfarrabista e crítico literário, em vez de outra fanfarronada de quem se propõe vir agora exumar a lenda, Bobone disseca as especulações e faz um ponto de ordem depois de 400 anos em que Camões foi sobretudo um espelho dos seus intérpretes.
Luís Bernardo Honwana escreveu este livro de contos em 1964, quando tinha apenas 22 anos, e Moçambique estava ainda submetida à administração portuguesa, sendo patente uma estratégia de expressão anticolonialista, servindo-se da língua do invasor para denunciar a invasão.
Uns trazem uma lista, outros preferem vir à descoberta. Mafalda acredita que pode viver mil vidas através de um romance; João leva um saco cheio e ainda não terminou a sua volta; Maria partilha o que lê no Tik To e só este ano já leu 73 títulos. Adolescentes ou adultos, partilham a paixão pelos…
Os 500 anos deste poeta cujo canto se viu atado à pátria e submergido exigiriam uma atualização, atendendo ao seu efeito de rutura e denúncia, àquela ciência sonora aprendida com o mar e a sua infindável viagem, que continua a incitar-nos a largar amarras para só regressarmos inspirados de um verdadeiro ímpeto de vingança.
Nascido em Moscovo, Wladimir Kaminer escapou à paranoia soviética, mas trouxe o seu sentido de escala e a ironia das gerações desgastadas pelos grandes mitos trágicos, e daí que a derrocada do Ocidente não deixe de lhe saber a um pequeno-almoço abundante com vista sobre o tal apocalipse
Uma forma mais penetrante de observar sintomas da coisa literária em autores sujeitos ao engodo publicitário é ignorar os romances e olhar para outro tipo de textos, mais pequenos, onde as intenções estão mais à flor da pele.
Auster morreu em casa, em Nova Iorque, vítima de cancro do pulmão, de acordo com a imprensa norte-americana.
Fez o curso de Comandos e aos 20 anos já liderava um grupo de combate. Fez três comissões – Moçambique, Angola, Guiné – e integrou o movimento dos capitães. Nesta primeira parte da conversa, que continua na próxima edição, recorda a sua experiência em África e as circunstâncias que levaram à revolução.
A partir dos instrumentos de análise de Jean Baudrillard, que apontou para uma tentação de submeter o século XX a um processo de revisionismo e desinformação imparável, procuramos compreender como as comemorações dos 50 anos da revolução dos cravos procuram esvaziá-la de sentido, e como apenas exprimem uma forma de arrependimento.
“Toda a minha vida não fiz outra coisa senão arranjar problemas”, escreveu certa vez o mais blasfemo dos autores austríacos. “Não sou o tipo de pessoa que deixa os outros em paz”. Esta nota deve vir à cabeça para que ninguém vá ao engano ao abrir alguma das páginas desse escândalo contínuo que foi a…
Em Otimizados e Desencontrados, este autor italiano explora o quadro de devastação íntima e cultural que a propagação do digital e os hábitos da relação com o ecossistema tecnológico e mediático têm provocado, ao ponto de transformarem a própria natureza humana.
A morte de Júdice a 17 de Março por agora só gerou o palavreado encomiástico próprio das brochuras mortuárias, mas seria importante recuar meio século e ter em conta como a sua estreia trouxe um ímpeto de renovação da poesia que pela última vez correspondeu a essa “primavera magnífica” que se espera da juventude.
1934-2024. Morreu aos 90 anos de uma espécie de maldição familiar
Fidalgo pobre, nascido provavelmente em 1524 e criado em Lisboa, Camões movimenta-se em meios duvidosos. Apesar dos seus pergaminhos, não desdenha dar-se com prostitutas e rufiões. E acaba preso.
A mais recente recolha de poemas de Quintais permite-nos traçar um retrato dos modos de abdicação e sujeição a que se abandonou muita da actual poesia portuguesa, julgando sinalizar o fim do mundo, quando era o mundo, na verdade, que parecia desertar das suas representações.