Discreta, ousada, paradoxal, visionária, “feiticeira da solidão”, nas palavras de Urbano Tavares Rodrigues, Maria Judite de Carvalho deixou-nos há vinte anos. Mas a sua escrita tecida de silêncio e rebelião, a sua “crónica de coisa nenhuma”, continuam a provocar-nos ainda hoje.
Fez do existir quotidiano o centro da sua escrita intimista. Espectadora céptica e desencantada, cruzou o abismo sobre o arame dos dias comuns, desiludidos, fracassados – vertidos no retrato de um Portugal de rotina baça, sem abertura nem projecto. E chegou ao outro lado, lá onde o talento literário ganha altura e profundidade.