Estimulantes sexuais cativam jovens

Vendidos sem receita médica, os estimulantes sexuais do momento apostam num público jovem, saudável, noctívago e consumidor de álcool. Especialistas alertam para risco de dependência psicológica

a noite é de festa. ele planeia encontrá-la insinuante e desinibida, ela espera dele uma resposta sexual potente. mas à medida que o relógio avança, o cansaço e o consumo excessivo de álcool ameaçam boicotar o momento. com a perspectiva de um fiasco em iminência, ele prefere confiar o desfecho dos acontecimentos a um comprimido em vez de arriscar uma falha de erecção.

o cenário aqui descrito é recriado a partir das palavras do empresário luís roque e serve de promoção ao rock hard weekend, um estimulante do desempenho sexual masculino cuja composição 100% natural dispensa receita médica e permite na compra das cápsulas naturais.

«o rock hard está concebido para captar novos públicos, mesmo que não tenham uma necessidade fisiológica de o consumir», reforça luís roque. «posso não ter um problema de saúde, mas se quero ir para a noite e beber álcool, sem depois sofrer interferências no aspecto das relações sexuais, tenho aqui o produto indicado».

com um efeito estimulante que pode durar 72 horas, o comprimido – disponível em unidose, ao preço de 9 euros – vendeu 10 mil unidades só em julho e agosto, os primeiros dois meses de comercialização.

apesar de as vendas não estarem discriminadas por idades, o funcionamento do mercado destes estimulantes naturais – onde se destaca o famoso pau de cabinda – sugere que uma fatia expressiva dos consumidores têm entre os 16 e os 20 e poucos anos.

«a nosssa praxis diária confirma que a procura destes produtos começa cada vez mais cedo», nota o homeopata fernando neves, secretário-geral da associação de medicina natural e bioterapêuticas.

para este especialista, que fala mesmo num risco de «adição psicológica», a tendência explica-se pelos excessos de comportamento. «por um lado, a juventude bebe mais e muito mais cedo. por outro, o acesso demasiado livre e precoce ao sexo parece lançar os jovens numa procura desesperada de novas experiências».

o fenómeno, explorado pelos promotores do rock hard, já levaram a rhw a ponderar a comercialização do equivalente feminino. mais do que uma nova oportunidade de negócio, a perspectiva confirma os receios do psicólogo clínico pedro nobre: «cada vez mais também as mulheres cedem a uma pressão sexual exagerada na busca de estímulos».

sem questionar a eficácia desses produtos, o especialista e presidente da sociedade portuguesa de sexologia clínica alerta, no entanto, para os seus efeitos psicológicos, sobretudo nos mais jovens. «quando já estou a pensar em prevenir um mau desempenho sexual, estou a abdicar do melhor da sexualidade, porque ela deixa de ser um prazer para estar centrada numa erecção».

pedro nobre lembra ainda que este comportamento está associado ao velho mito de o homem nunca pode falhar. com a propagação destas «crenças irrealistas», o psicólogo clínico nota que a sua combinação com noitadas, consumo de álcool e trocas regulares de parceiros potencia um preocupante retrocesso social. «tal como nos tempos em que os rapazes perdiam a virgindade com prostitutas, este tipo de sexualidade caracteriza-se por uma quase ausência de preliminares. como se o homem fosse uma máquina».

paula.cardoso@sol.pt