«não falimos porque não somos um negócio, temos transmitido a cultura», afirmou numa sessão de apresentação da cerimónia do chá, chado, no museu do azulejo, em lisboa, no âmbito das comemorações dos 150 anos do tratado de paz, amizade e comércio entre o japão e portugal.
acompanhado por uma intérprete, o grande-mestre da escola chado urasenke, de quioto – a principal do japão -, fez uma demonstração do chado, perante uma sala cheia e falou dos seus usos. também considerada um remédio, a bebida ainda é recomendada para curar ressacas.
«quem serve e quem toma o chá devem ser pessoas humildes e respeitar-se mutuamente», explica, elevando o momento à condição de cerimónia repleta de rituais – que passam pela etiqueta, pela criação dos jardins japoneses, pelo ikebana (arranjos florais), pelo uso da caligrafia exposta na sala onde se toma o chá, pela própria construção das casas tradicionais.
entram em cena, sobre os colchões de tatami colocados no palco, as personagens. são dois hóspedes, trajados a rigor nos seus quimonos apertados pelo obi, a faixa larga à volta da cintura, que se entrelaça nas costas. a anfitriã cumprimenta-os com uma vénia. não descuida pormenores, em gestos suaves: purifica os utensílios artesanais com um pano de seda vermelho (uma influência lusa, à semelhança do que se faz nas missas), oferece a doçaria que tradicionalmente acompanha o chá e prepara a bebida, retirando a água fresca de um pote para outro, aquecido.
o pó verde – é nesta forma que se apresenta o matcha, triturado – é misturado na água com uma vassourinha de bambu, e servido num recipiente de cerâmica. tomada a bebida, voltam a ser limpos os utensílios, enchidos os potes e todos se retiram, pausada e silenciosamente. a anfitriã também agradece à água: «porque é importante o respeito pela natureza».
finda a cerimónia, foi servido o matcha. em passinhos curtos, quimonos de várias cores desfilaram pela plateia, oferecendo o chá de textura espessa e espumosa, verde vivo, cor de ervilha, e um sabor intenso, com alguma adstringência, que a doçaria típica japonesa equilibrou. com uma vénia de agradecimento, despedimo-nos.
ana.c.camara@sol.pt