Estradas de Portugal ‘premeia’ atrasos

A Variante Sul de Coimbra foi inaugurada por António Mendonça com dez meses de atraso. EP pagou 351 mil euros por antecipação de abertura de obra que estava três meses atrasada. Estrada tem 5 km e custou 19 milhões.

a empresa estradas de portugal (ep), gestora da rede rodoviária nacional, pagou cerca de 350 mil euros à construtora ferrovial agroman a título de sobrecustos pela antecipação de abertura de um troço da variante sul de coimbra – obra que estava atrasada cerca de três meses.

a proposta para o pagamento do ‘prémio’ partiu dos serviços da ep, mas a autorização dada pelo então vice-presidente eduardo gomes em novembro de 2009 pode ter violado a lei. o facto de o despacho de gomes, a que o sol teve acesso, ser totalmente omisso no enquadramento legal que permitiria pagar os 350 mil euros, «põe em causa os princípios da transparência e da imparcialidade» impostas pela lei, assegura raúl mota cerveira, advogado da miranda & associados.

5 km em dois anos
a variante sul de coimbra, com uma extensão de cinco quilómetros que custaram 19,2 milhões de euros, foi uma obra atribulada desde o início. teve três consignações (entrega dos terrenos para o inicio da obra) entre novembro de 2007 e abril de 2008, prevendo-se a conclusão para novembro de 2009. mas acabou por ser inaugurada apenas no passado dia 13 de setembro pelo ministro antónio mendonça.

foi precisamente na data em que a obra deveria estar terminada (novembro de 2009) que o centro operacional centro norte (cocn) da ep fez a proposta a eduardo gomes para a abertura parcial do troço de 2,6 quilómetros entre o nó de almegue e a en 241.

antecipação de abertura do troço diminui atraso
em informação remetida para o vice-presidente da ep, godinho miranda, director cocn, afirmou que a troço deveria estar concluída em julho de 2010. contudo, acrescentou, era possível antecipar a abertura do mesmo para dezembro de 2009 – o que faria com que, mesmo assim, o «atraso», fosse «pouco superior a dois meses».

«face aos sobrecustos apresentados pelo adjudicatário no valor de 351.753, 22 euros, os mesmos entendem-se em conformidade com os trabalho derivados da eventual antecipação», concluiu o director do cocn.

eduardo gomes concordou com a proposta, invocando apenas «os benefícios sócio-económicos» para as populações abrangidas pelo troço. o vice-presidente da ep fez questão de elogiar «a razoabilidade dos valores negociados», «tendo em conta a conclusão de uma parte significativa da obra com um atraso de três meses». quando à fundamentação legal que permitiria proceder ao pagamento dos 350 mil euros, nem uma palavra.

raul mota cerveira, jurista especialista em direito público, não tem dúvidas em classificar o despacho de eduardo gomes como «ilegal» por violar «os princípios da transparência e da imparcialidade, pois não se consegue apreender se e quando podia haver lugar à antecipação da entrega e à remuneração dos custos adicionais daí resultantes». para o sócio da miranda, «a ep deveria ter sido mais transparente, fundamentado convenientemente a decisão tomada», concluiu.

ep tem que reclamar pagamento de multas
o jurista diz ainda que, «para que a legalidade seja cumprida», a «ep tem (ou terá) de aplicar e cobrar multas» pelos atrasos registados. «quando no final se fizer a conta final da empreitada, nesta deve levar-se em linha de conta não só o preço inicial, o valor dos sobrecustos, mas também os valores das multas pois, o facto de terem sido aprovados sobrecustos não inviabiliza que as multas sejam aplicadas e cobradas», afirmou.

o sol enviou diversas perguntas escritas à ep, mas não obteve qualquer resposta da administração de almerindo marques até ao final do fecho da edição.

luis.rosa@sol.pt