Cigarros e RP

A discoteca estava bem composta e a pista de dança era a zona mais preenchida.

perto dos bares o movimento era menor e conseguia-se pedir bebidas sem grandes demoras, ao contrário de tempos não muito distantes.

enquanto comentávamos este facto, aproximou-se um rapaz estrangeiro que perguntou se falávamos alemão. como a resposta foi negativa, falou em inglês, acabando por fazer o pedido em português: dois cigarros, «um para mim outro para o meu amigo».

o sotaque revelava o tempo que tem em terras lusas. há muito por cá, já se acostumou aos hábitos portugueses. pouco tempo depois, e enquanto contemplávamos o rio da varanda, já que estava uma noite magnífica, apareceu uma rapariga com um pedido idêntico: cigarros. já no interior da discoteca, novo pedido de tabaco.

ainda nos questionámos se não haveria cigarros à venda, tantos eram os pedidos. mas como o maço se esfumou num instante, acabámos por confirmar que não faltavam cigarros para vender, embora os compradores escasseassem.

setembro é historicamente um mês de grande contenção. os cartões de crédito ficaram cheios em agosto e é natural que seja preciso algum tempo para repor a saúde financeira. se à normalidade sazonal se juntar o agravar da crise, percebe-se por que razão junto aos balcões se circula com alguma facilidade e os pedidos incessantes de cigarros não param.

curiosamente, dos ‘milhares’ de projectos anunciados para a noite de lisboa e do porto, muitos destinam-se a um público mais jovem, tão jovem que ainda não tem salário, além da mesada.

mas são esses que não prescindem de gastar todos os tostões que conseguem angariar. ou em casa ou ajudando a promover alguma festa, tirando os dividendos da actividade de relações públicas (rp).

actividade que, diga-se, deve ter sido a que mais cresceu nos últimos anos em portugal. dá-se um pontapé numa pedra e logo surge um. estou em crer que por cá há tantos rp como no brasil existem jogadores de futebol. por este andar, ainda acabamos a exportar rp para o resto do mundo. um actividade onde não nos desenrascamos mal.

vitor.rainho@sol.pt