O Último Metro

Sempre houve e haverá seguidistas. Mas já se cultivou mais a diferença na diferença…

nunca fui adepto de imitações e sempre tive algum desprezo ou desencanto por seguidistas. acho uma tontice, por exemplo, ver pessoas vestirem-se de uma forma desconfortável para apenas estarem na moda.

a última aberração foi aquela das mulheres usarem umas calças que pareciam um saco de batatas, com alguns quilos escondidos no fundo. quem inventou tal moda de certeza que não gostava de mulheres…

hoje é muito frequente assistir a bandos de miúdos que se vestem e comportam de uma forma idêntica. não há um sequer que se distinga. lembro-me que nos meus tempos de ‘cachopo’ um filme marcou o grupo de amigos: quadrophenia, um dos primeiros onde entrou sting.

a guerra entre mods e rockers situava-nos próximos dos primeiros. vestíamos camisolas idênticas, mas as imitações acabavam aí. em tudo o resto cada um vivia o filme à sua maneira. é certo que já então havia os tais seguidistas ferrenhos, à semelhança dos dias de hoje.

os tempos modernos não são piores nem melhores do que o meu tempo, embora há uns anos se cultivasse mais a diferença dentro da diferença.

e, ao rever outros dois filmes que adorei há 20 anos, retirei um prazer especial de sentir praticamente o mesmo que na primeira vez. contos da loucura normal e o último metro são duas obras de arte. o primeiro, como o próprio nome dá a entender, fala na loucura de ser livre e de não ceder ao que nos querem impor – ornella muti parece um anjo azul e não me recordo de alguma vez ter visto uma actriz tão bonita.

o segundo também fala de amor – embora de uma forma bem distinta –, cumplicidade e lealdade. mas o que mais guardei na memória, além da beleza fria e altiva de catherine deneuve, foi a forma como é possível ver sem presenciar fisicamente. o marido da actriz estava escondido na cave do teatro, mas ao ouvir os diálogos da peça que ela encenava com gérard depardieu, percebeu que entre a ficção e a realidade os sentimentos se misturavam.

quando as noites não estão muito convidativas, nada melhor do que ir ao baú da cinemateca particular e viajar na loucura normal.

vitor.rainho@sol.pt