Europa vira-se contra o Islão

Áustria e Holanda são os casos mais recentes em que a extrema-direita ganha ascendente com discurso anti-islâmico, em ambiente de ameaça terrorista

a europa escandalizou-se em 2000, quando a extrema-direita chegou ao poder na áustria. o discurso xenófobo de jörg haider valeu sanções a viena por parte da união europeia.

em 2010, a ascensão do herdeiro político de haider, heinz-christian strache – ao obter no fim-de-semana passado 27% de votos nas eleições municipais e regionais de viena –, e com um discurso mais violento já não acirra ânimos.

no espaço de uma década, o discurso da extrema-direita centrou-se num dado novo: o ataque aos imigrantes muçulmanos e ao islamismo.

apesar do tom musculado que o higienista oral strache usa (e da inovadora táctica de campanha, ao eleger as discotecas como local estratégico), o expoente desta retórica é geert wilders, também líder de um partido da liberdade, mas da holanda.

wilders tem estado no centro das atenções, ora por ter viabilizado há dias o governo minoritário de liberais e democratas-cristãos em troca da proibição do véu islâmico e de medidas anti-imigração, ora por estar em julgamento, acusado de instigar o ódio e de discriminar os muçulmanos.

herói para uns – tem ganho apoios nos eua, onde discursou no 11 de setembro, e na alemanha, onde apadrinhou, no princípio do mês, um novo partido, a liberdade –, é demagogo irresponsável para outros.

o popular líder da extrema-direita holandesa (que se diz liberal e não tem afinidades com partidos neofascistas) diz estar apenas no uso da liberdade de expressão, não ter nada contra os muçulmanos, mas contra o islão e o seu livro sagrado: «estou farto do alcorão na holanda. proíbam esse livro fascista!», escreveu no jornal de volkskrant.

para não ter o mesmo destino que o político pim fortuyn e o cineasta theo van gogh (críticos do islão que acabaram assassinados), wilders tem de viver protegido por guarda-costas.

direita, volver

as mais recentes vitórias da extrema-direita na áustria e países baixos juntam-se à recente entrada no parlamento sueco, e a coligações no governo dinamarquês, italiano e letão, além de terem representação em mais nove parlamentos europeus.

em comum, apenas a atracção do eleitorado por uma mensagem que fuja dos padrões do centro-esquerda e do centro-direita.

enquanto a península ibérica parece imune a este discurso que visa os estrangeiros, a frança de sarkozy entrou numa deriva persecutória aos ciganos que já teve sequela em estrasburgo: a segunda cidade sede das instituições europeias tem sido palco de ataques islamófobos e anti-semitas no último mês.

ódio gera ódio, já se sabe. se a participação europeia na intervenção militar no afeganistão já era motivo para os fundamentalistas ameaçarem atacar a europa, o discurso extremado contra a crença muçulmana não ajuda.

o que explica o alerta que se vive contra atentados terroristas. «é como se estivessem muito excitados com algo grande que vai acontecer no ocidente», confirmou um espião à newsweek no afeganistão.

cesar.avo@sol.pt