a autoridade de segurança alimentar e económica (asae) lançou, a semana pasada, uma mega-operação na zona do seixal, na margem sul do tejo, para recolher amostras nos locais onde as vítimas do surto de listeriose indicaram ter comido ou ter adquirido alimentos não embalados.
a operação foi planeada para durar toda a semana – até serem visitados todos os estabelecimentos referidos pelos doentes e pelos familiares daqueles que, entretanto, morreram com a infecção por listéria –, tendo sido recolhidas centenas de amostras, sobretudo de produtos de charcutaria fatiados no momento e queijos frescos. segundo soube o sol, estes são os alimentos onde é mais frequente poder-se encontrar a bactéria que provoca listeriose nos humanos, tendo os doentes e familiares das vítimas referido o seu consumo no período anterior à doença.
os inspectores da asae concentraram o seu trabalho na cidade do seixal e arredores. recolheram amostras de alimentos em hipermercados, restaurantes e pequenos estabelecimentos que foram referidos pelos doentes nos inquéritos epidemiológicos feitos depois de, em julho, as autoridades de saúde terem detectado a situação. estes inquéritos tinham como objectivo identificar a origem da infecção – o que não foi possível porque foram indicados locais diferentes uns dos outros. mas permitiram confirmar, por exemplo, que um dos doentes, que foi diagnosticado em coimbra, também tinha estado na zona do seixal.
francisco george, director-geral de saúde, disse ao sol que este trabalho no terreno permitirá em breve («o mais provável até ao final da semana») identificar a origem do surto e, em consequência, eliminá-lo. os estabelecimentos onde forem encontrados alimentos contaminados terão ainda de responder perante a justiça, adiantou.
‘mais casos e mortes’
a comunicação pública sobre este caso foi feita pela direcção-geral de saúde (dgs) no final de julho – quando foi anunciado que, até essa altura, 24 pessoas tinham sido diagnosticadas com listeriose, tendo todas elas passado pela zona de almada e setúbal. treze destes doentes acabaram por morrer (entre os quais se incluem os nados-mortos de duas grávidas), como o sol então revelou.
entretanto, e desde que começaram os trabalhos de investigação liderados pela dgs, não foi feita qualquer comunicação pública sobre o surto (o último comunicado é de 5 de agosto). mas francisco george nega que tenha sido imposto silêncio às entidades envolvidas neste trabalho – nomeadamente, ao laboratório de biotecnologia da universidade católica do_porto, onde são feitas as análises genéticas da bactéria e que confirmou, em julho, o facto de os 24 casos até aí registados terem todos o mesmo subtipo da listéria. uma situação que, por isso, se enquadrava na classificação de ‘surto’.
francisco george explica que o comunicado então feito pela autoridade de saúde que dirige falava já «em número considerado superior ao normal», o que «significa o mesmo que surto», esclareceu.
entretanto, na semana passada, paula teixeira, investigadora do mesmo laboratório, disse ao sol que «continuam a registar-se novos casos e mortes»: «não sei quantificar mas é certo que o caso ainda não está resolvido».
a listeriose é uma doença infecciosa que tem origem no consumo de alimentos contaminados. tem um período de incubação até 70 dias e pode ser fatal em pessoas imunodeprimidas, como idosos fragilizados, doentes crónicos ou grávidas – que desenvolvem infecções meningócicas que o organismo não consegue combater.
graca.rosendo@sol.pt e susana.branco@sol.pt