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O preenchido dia-a-dia de Marcelo Rebelo de Sousa.

a arte de malangatana, embaixador e onu

malangatana. estive duas horas a vê-lo pintar um fiat cinquecento, que vai ser leiloado para obra social em maputo. ideia imaginativa de guicha e joão ferreira dos santos. pintar em chapa é uma aventura e assistir ao nascer de painéis de caras expressivas e de contrastes de cores é uma emoção. tudo em contra-relógio, para envernizar, antes que a tinta estale… com duas jovens lindíssimas a assessorar e música composta pelo mestre em pano de fundo. uma fábula…

almada. dia 23, malangatana inaugura exposição de desenhos em almada. na casa da cerca. ocasião única para quem quiser ficar com obras suas, já que o tempo vai rareando para produções muito numerosas.

fundação. com o seu nome e patrocínio vai mesmo avançar. a vinda a lisboa pode ser importante para a concretização. tal como para um check-up a sério de um viandante imparável e, às vezes, descuidado com a saúde.

arguições. mais duas. as mais longas, complexas e sobre duas boas teses e com boas defesas. temas: concessão de bens do domínio público e protecção de pesca pré-existente na área; conformidade com o jus cogens e mais direito internacional do regime moçambicano de prisão preventiva sem prazo e esvaziamento da presunção da inocência dos arguidos. na segunda, tive de fazer das tripas coração e ir estudar direito penal como já não fazia há séculos… no fim das seis arguições, uma palavra: exausto…

embaixador. muito boa opinião do embaixador de portugal em moçambique, mário godinho de matos. confirmando a impressão formada em conversas telefónicas aquando da crise de setembro. lúcido, sereno, discreto, inteligente e eficaz.

relações. entre portugal e moçambique em boa forma. visitas de sócrates aqui e de guebuza aí, e cimeiras anuais – saldo muito positivo. avanços de investimentos portugueses na celulose, na electricidade, porventura nas telecomunicações, e, ainda, na banca, na agricultura e na agro-indústria, na indústria em geral e na construção, nas obras e na hotelaria em particular – tudo notícias propícias. fora a educação – vide a cooperação entre a minha faculdade e a congénere da eduardo mondlane, em licenciatura, mestrado e doutoramento – e a saúde…

borges coelho. joão paulo. grande prémio da leya de 2009. encontro interessante. especialista em defesa, ficcionista, e muito divertido. além de observador perspicaz e simpático. uma curiosidade: foi colega de mia couto na escola primária.

padre josé januário jorge. um quarto de século de obra social. em mavalane. junto ao aeroporto. ao todo, hoje, 16.500 crianças e jovens em instituições que criou, ajudou a criar ou a supervisionar. uma figura!

luísa diogo. também presente no jantar do embaixador. política longe de se considerar reformada.

inexcedível. de simpatia. eneas comiche. presente em vários momentos desta semana intensa. recuperado do acidente de tempos atrás. vantagens de se ser casado com mulher portuense e energética.

onu.grande triunfo do governo e da diplomacia portugueses. contra canadá e alemanha. com apoios dos pequenos e médios deste mundo. e grande ajuda dos lusófonos. veja-se moçambique e a sua mobilização de votos vizinhos, apesar das fortes doações canadianas. ou de como continuamos a ser vistos como ponte entre os ricos e poderosos com os quais convivemos, e os demais – que são mais – e que confiam em nós como porta-vozes isentos das suas posições.

mineiros, crise e ue

mineiros. na noite anterior já mal dormira para ver o início da operação. na de ontem, assisti à sua conclusão. como é bom ter 24 horas seguidas de boas notícias, de progresso e de globalização usados em favor de quem não é poderoso e favorecido, de um político que arriscou e teve o sucesso merecido pela sua coragem. imagens excepcionais!

crise e ue. conferência para duas centenas de estudantes e alguns professores da universidade. três horas, quase, entre exposição e inúmeras perguntas. tema recorrente de perguntas: a passagem do orçamento português. aliás repetido por televisões locais, em entrevistas no final. visível uma atenção evidente ao que se vive em portugal.

mais orçamento. antes da conferência, em encontro proporcionado, ocasionalmente, com embaixadores acreditados em maputo – em visita ao polana –, ainda mais patente a atenção e a preocupação com o voto do nosso orçamento. o embaixador francês foi o mais incisivo dos europeus, ao considerar impensável o chumbo, por muito grave também para a europa. fiquei impressionado com o facto de este tema ser dominante nos círculos diplomáticos, tão longe das paragens europeias…

jantar académico com o director da faculdade, alberto dimane e gilles cistac, o professor francês alma da cooperação com portugal. muitos projectos para o futuro próximo, à espera da decisão suprema de dário moura vicente, o presidente do instituto para a cooperação na nossa escola e líder incansável de tudo o que se tem feito no mundo da lusofonia. e que vem a maputo dentro de dias…

fortaleza. um pulo rápido para rever a estátua de mouzinho de albuquerque, noutros tempos na praça da catedral. e para percorrer exposição sensacional das digressões mundiais dos grandes intérpretes do jazz americano nos anos 50 e 60. com fotos e documentos inéditos…

catedral. regresso mais uma vez à imponente catedral da cidade, para saber das obras pensadas, mas adiadas por falta de meios. o dízimo mensal – ou seja, contributo do milhar de paroquianos – não chega a 800 euros, trocando na nossa moeda. momento grande: o terço rezado perante imagem de nossa senhora de fátima com os habituais cânticos de fátima, esvoaçando uma dezena de passarinhos que têm os seus ninhos dentro da catedral…

universidade e despedidas

doutorandos. dias para última palestra e sucessivos encontros com doutorandos. para programar vida ou controlar trabalhos. corrupio infernal, mas indispensável. orientar à distância é muito pior.

ministros. encontro casual com os da justiça e dos negócios estrangeiros. ela, magistrada, simples e realista. ele, mais sofisticado e experiente, embora vivendo em circulação constante fora do país. elogios a alberto martins e luís amado.

laurentina. no meio dos afazeres, ida ao depósito da cerveja laurentina. comprar duas caixas para levar para lisboa. é óptima. não se vende lá e tenho de aparecer com algumas garrafas no jantar de 25 com a flor pedroso e o henrique cayatte. adoram-na… a chefe das vendedoras é tia do meu motorista-guia aqui, tam king, um estudante de economia que faz biscate nas horas livres e é simpático e trabalhador. ou não fosse chino-moçambicano. e, claro, é fino que nem um alho.

greve. no caminho, passamos por greve barulhenta. da empresa de segurança delta. não paga salários, dizem-me… greves têm pululado nos últimos tempos. até na saúde. são os tempos e os modos…

debate. vi debate parlamentar em lisboa. morno. ps a querer picar psd para chumbar. psd cuidadoso. como cds. be duro. pcp prudente.

despedidas. mais do que muitas. do embaixador e da embaixatriz – peruana, admiradora, como se esperaria, de vargas llosa. de guicha ferreira dos santos. de mais três antigos alunos cá e dois de lá. de duas jovens escritoras, uma já publicada com êxito, outra a iniciar a via crucis da edição. de grupo de estudantes, que me procurou para falar…

jantar. em cima da partida, jantar interessantíssimo. promovido por ricardo mota (o homem-forte da rtp). com mia couto, nagy. noronha carrilho, marques do carmo e ………. ……… (ex-ministro, juiz constitucional e gestores de peso).

balanço e oe atrasado

balanço. como encontrei moçambique? camada 1, à superfície – ambiente mais calmo e distendido do que há um mês. mas com sinais de preocupação e mesmo tensão aqui e ali. camada 2 – remodelação minúscula, feita esta semana, tirando agricultura, indústria e comércio e saúde e levando para a agricultura o amigo do presidente que estava no interior. aparentemente, nome amigo de portugal no interior e alguma expectativa na saúde. no geral, curto. fala-se de nova mexida já. e o presidente cancelou idas a eua e espanha. prefere ficar por cá. camada 3 – economia apertada, salários baixos para a inflação, queixas decorrentes, concentração de poder económico e sua ostentação numa minoria muito minoria, ligada ao presidente; distanciamento do ‘barão da droga’ por concretizar; intervenção excessiva do núcleo pessoal e familiar nas decisões empresariais mais pesadas; politicamente, prolongamento do mandato ou terceiro mandato presidencial pouco prováveis – logo, antecipação de congresso para 2011, apenas três anos e meio para fim de ciclo, movimentações discretas para esse futuro, oposição inexistente, jornais urbanos como única oposição mais acompanhada, insatisfação crescente em sectores do partido e nos meios intelectuais. numa palavra, presidente guebuza enfraquecido relativamente a 2007 ou 2008, anos de minhas vindas anteriores. mesmo enfraquecido…

oe. chegou tarde mas chegou. como se esperava. mais brutal do que sócrates dissera. a provar a gravidade do momento. vi em diagonal. voo a sair sábado tardíssimo e a chegar domingo manhã fora não facilitou. impressão pré–programa da tvi: ps quer mesmo vitimizar-se, provocar crise e tentar minimizar danos em eleições em maio.

atraso. outra sensação nítida: o governo esteve a rever e retocar o oe até ao fim. para aditar o que surgia de mais crítico na opinião pública. como a extinção de organismos da mais variada espécie. daí o atraso que é de gritos num governo que exige dos partidos da oposição anúncio antecipado do sentido de voto.

faculdade e recandidaturas

‘reunite aguda’. para compensar os trabalhos de maputo, dias de ‘reunite aguda’ na faculdade. reuniões de grupo, conselho de catedráticos e conselho científico. as horas que se gasta em reuniões… razão têm os japoneses, que decidiram reunir de pé, para abreviar a duração dos encontros.

sp. braga. depois de ter encontrado em maputo o presidente antónio salvador, ainda não recandidato, e de haver viajado no mesmo avião com ele – embora não num lugar tão bom como o seu –, a emoção do jogo com o partizan. felizmente, as melhores expectativas verificaram-se: vitória por 2-0.

federação. ainda em maputo, antónio salvador contou-me a inesperada entrada de pinto da costa na reunião do conselho de presidentes da liga, a que já não ia há tempos. fiquei ligeiramente preocupado por quanto às dificuldades por que ainda pode passar a candidatura do meu amigo fernando seara à federação.

recandidatura. por falar em recandidaturas, pasmei com a estupefacção suscitada pelo meu’ furo jornalístico’ relativamente a cavaco silva. ao fim de décadas de comentário, usando muitas vezes informação nova, surpreende-me a reacção daqueles que acham que comentador só pode usar informação conhecida e, se possível, requentada.

psd, oe e entrevista

oe. o psd reuniu ontem e abriu caminho à viabilização do orçamento do estado. embora por caminhos aparentemente tortuosos. dizem os latinos: ad augusta per angusta.

passos coelho. ao começar a recuar, embora subtilmente, pode ter marcado pontos. má notícia para o ps e para os adversários de passos no psd.

cavaco. apelou ao entendimento no orçamento. anunciou notícias para 3.ª-feira próxima. repetiu o que sempre afirma: não comenta o que dizem os analistas. homem sábio…

pabe. vi o jogo de ontem do sp. braga, em pleno jantar com júlio magalhães e com a vizinhança amiga de pratas e sousa. no sempre recordado pabe, que foi a minha cantina entre 1972 e 1981. matei, sobretudo, saudades dos responsáveis do expresso e do sol.

desgosto. para os benfiquistas, com a derrota na liga dos campeões. em particular, para um amigo que canalizou as suas energias (renováveis) para ir até lyon.

preocupação. tolentino mendonça, com quem eu iria participar hoje em colóquio religioso, teve de receber tratamento no hospital s. josé. malangatana sentiu-se mal no avião entre maputo e lisboa e está no hospital sta. maria. fim de tarde com notícias aziagas.

entrevista na tvi. muito boa por parte de constança. bom início, mas pior fim por parte de passos coelho. cansaço e exiguidade de espaço visíveis.