dos portugueses não reza a história, salvo as últimas prestações de meia dúzia de atletas que tudo fazem para combater o fadinho nacional da desgraça. mas não seria natural que a delegação portuguesa se apresentasse sempre nas principais competições náuticas para discutir as vitórias nas diferentes categorias?
seria se portugal aproveitasse o seu mar e rios para apostar num desporto onde temos as melhores condições naturais para preparar campeões. sucessivos governantes esqueceram o passado glorioso do país em termos de navegação marítima. até parece que vasco da gama, o infante d. henrique, bartolomeu dias ou diogo cão, por exemplo, não partiram de portugal à conquista de outros mares…
mas se no desporto não damos cartas por falta de investimento e divulgação, o que dizer do campo das pescas, em que importamos dois terços do que consumimos? os números são ainda mais anedóticos se pensarmos que antes de entrarmos para a união europeia pescávamos o dobro do que conseguimos agora. e que dizer da frota de marinha mercante, que passou dos 150 navios para a dezena actual?
o deslumbramento do novo riquismo é perfeitamente ‘aceitável’. quem ganha o primeiro ordenado, regra geral, quer sentir o cheiro do dinheiro em coisas a que até aí não tinha acesso. podemos por isso dizer que foi naturalmente que o país, a tentar cicatrizar as feridas de uma descolonização, se virou para a união europeia. e ao virar-se para a união europeia pensou que não precisava de trabalhar, até porque os subsídios chegavam para animar a rapaziada. um pouco à semelhança do que se passou na época dos descobrimentos, quando se pensou que a riqueza vinda das ex-colónias seria suficiente para alimentar o país.
é certo que levámos muito tempo para acordar desse novo-riquismo europeu. hoje já começamos a olhar para a riqueza do nosso mar e da nossa história nessa matéria. com relações privilegiadas com o mundo português e sendo uma porta de entrada na europa, faz todo o sentido que os nossos empresários e governantes encarem o mar como uma porta de saída para a crise, ou pelo menos como investimento estrutural no futuro do país. fará sentido, por exemplo, no porto de sines os carros serem descarregados dos caminhos de ferro e terem de andar 200 metros pelas suas próprias rodas até aos navios? é caricato.
esta edição temática é dedicada aos desafios que nos coloca o mar. um mar de esperança, se a classe governante souber aproveitar as oportunidades.