há fenómenos em portugal que são difíceis de compreender. é um lugar-comum, mas não deixa de ser cada vez mais actual. em nome não se sabe bem do quê, criam-se movimentos contra determinadas iniciativas que acabam por abortar à nascença mas bem poderiam contribuir para a riqueza do país.
os mais antigos lembrar-se-ão com facilidade do que foi dito contra a feitura do centro cultural de belém. muitas das cabeças pensantes de então disseram do projecto o que maomé não disse do toucinho.
felizmente, o centro cultural avançou e hoje é uma referência para todos. mas o ccb foi a excepção à regra. para o castelo de s. jorge, que é de tão difícil acesso, pensou-se em fazer um elevador que levaria as pessoas da zona da praça da figueira até ao interior das muralhas, mais coisa menos coisa. ‘horrível, como é possível querer desfigurar o coração da cidade?’, ouvia-se e lia-se na comunicação social. o elevador não levantou os pés do chão e o castelo lá continua essencialmente para turistas mais afoitos a caminhadas…
também na capital, um projecto menor começou a ser construído nas imediações do centro comercial das amoreiras. pretendia-se fazer um campo de treino onde os apreciadores de golfe iriam dar umas tacadas num terreno com dimensões idênticas a um campo de futebol.
‘mas que desgraça, a rede instalada vai tirar a vista aos moradores, é horrendo e é só para os riquinhos’, ouvia-se e lia-se. já com as torres montadas e, salvo erro, a rede que impossibilitaria as bolas de viajar para as estradas vizinhas, o projecto foi chumbado e até hoje o cenário parece o de um campo de guerra abandonado. com essa medida, mataram-se dezenas de postos de trabalho, directos ou indirectos.
depois foi a saga do túnel do marquês, que não vale a pena repisar. todos aqueles que querem entrar em lisboa sabem a mais-valia que a obra representa.
outro dos exemplos caricatos, este mais recente, diz respeito à abertura dos hipermercados aos domingos, durante todo o dia. ‘que não, que mata o comércio tradicional’, dizem uns. ‘que não, que o domingo é para a família’, dizem outros.
quando na década de 90 do século passado esta questão se colocou, chegou-se à conclusão que não é pelo facto de estarem abertos os hipermercados que as lojas tradicionais vão à falência. depois de chorudas quantias para a modernização do comércio de bairro, a história voltou atrás.
actualmente, muitos presidentes de câmara manifestam-se contra a medida porque devem pensar que a mesma não é popular e lhes fará perder votos. uma parvoíce, como confirmam todos os indicadores.
além de empregar mais gente, a decisão fará com que os comerciantes de bairro se adaptem aos novos ritmos e necessidades da população dos respectivos bairros. para aqueles que acham que o domingo é dia da família, então acabem com o futebol, o cinema e os espectáculos em geral.
a verem telelixo as famílias estarão melhor e poderão programar melhor a sua semana.