«quando for para subir esperem três minutos e carreguem no ‘1’ senão o elevador bloqueia», avisara nélio roda, o operador do elevador turístico que dá acesso à fajã dos padres, na costa sul da madeira.
a estrutura, construída em 1997, segundo o projecto do engenheiro madeirense antónio reis, foi cravada no enorme rochedo, permitindo abrir a fajã ao turismo. a trepidação faz alguma impressão, mas não tanta como a visão do elevador de carga, subindo e descendo, ao longo de cabos de aço suspensos, que parecem abanar com o vento. construído pelos donos da propriedade em 1984, ainda é utilizado para entrar e sair da fajã e para o transporte de cargas pela encosta íngreme.
pisamos terra firme entre árvores de frutos exóticos. seguimos até ao restaurante e à praia. a visão é tão perfeita que temos a sensação de estar no cenário de filmes como lagoa azul ou a praia. mas para isabel vilhena de mendonça e as irmãs, a fajã dos padres é o sítio onde a família sempre se reuniu – e continua a reunir –, o sítio das melhores recordações de infância.
«o meu avô comprou isto, em 1920. ele gostava de mar. somos quatro irmãs e lembro-me de passarmos aqui as férias de verão. vínhamos de barco», recorda isabel.
e porquê fajã dos padres? é o marido de isabel, mário jardim fernandes, quem nos explica que «a propriedade pertenceu durante dois séculos e meio aos jesuítas, que tinham comprado ao neto de gonçalves zarco a quinta grande e a fajã».
mário gere os cinco hectares da propriedade que estão dedicados à agricultura biológica. convida-nos para degustar um vinho madeira de 1993, feito com uvas da casta malvasia cândida – comercializado apenas no restaurante e para algum visitante mais interessado.
seguimos o lord, o velho labrador da família, até à adega, onde o casal nos fala da terra fértil, enquanto serve o precioso néctar directamente da pipa com o auxílio de uma cana-de-açúcar cortada em forma de concha.
as transformações na fajã dos padres espelham o que aconteceu na madeira. «isto era uma monocultura, teve cana-de-açúcar durante uma fase, vinha durante muito tempo e depois banana». no início dos anos 80, mário jardim ferreira aproveitou os «apoios [comunitários] para as culturas subtropicais», com a ideia de unir o turismo e a agricultura. «costumo dizer que, de cada bananeira, devemos tirar um cacho e dez fotografias», graceja.
a vinha foi mantida por gosto, por ser uma cultura tradicional. a banana da madeira, explica o responsável, é «melhor porque tem maior concentração de açúcar» – é o fruto que sai em mais quantidade da fajã e o único que é exportado, mas a manga (que os locais chamam mango) é o mais interessante comercialmente. há ainda pêra abacate, pitanga, papaia, figo… é esta fruta que nos dá as boas-vindas quando nos hospedamos numa das casas.
onde a família vilhena de mendonça guardava os barcos em tempos idos, é agora uma das casas de turismo – antes de existir o primeiro elevador, chegava-se à fajã de barco ou a pé, a partir do campanário (ainda hoje é possível fazer o percurso na maré baixa). é aí que ficamos.
depois do 25 de abril, a família começou a comprar as benfeitorias – explorações de terra onde os arrendatários construíram. «já temos cinco e estamos a recuperar mais três, a da tia maria e dos filhos», refere isabel.
à noite, aquecemos o jantar – que encomendáramos, à chegada no restaurante, cujo serviço termina às 18h. deliciamo-nos e ficamos a ouvir o marulhar.
acordamos com o mesmo som. demoramo-nos nas espreguiçadeiras, enquanto o sol não escalda, a observamos o táxi costeiro que chega com turistas – a viagem entre a fajã e as paragens mais próximas, ribeira brava e câmara de lobos custa cinco euros. os pescadores há muito que andam na faina.
nelson aveiro, funcionário da fajã dos padres, garante que aqui há «tainha, bodião, salema, garoupa, sargo, dourada…». o restaurante compra o peixe acabado de pescar. da horta local chegam os acompanhamentos à mesa: maçaroca (milho), feijão e abóbora. temperos como o tomilho, a segurelha e a manjerona nascem nos canteiros espalhados pela propriedade – há um mesmo junto ao restaurante. com a conversa nem demos pelo passar do tempo e abriu-nos o apetite.
antes, ainda mergulhamos na pequena baía azul com os olhos postos no grande rochedo que nos separa do resto da ilha, como náufragos… mas daqui não queremos ser resgatados.
como ir
de carro: a partir do funchal, siga pela via rápida para ribeira brava, saia para quinta grande/ cabo girão. de barco, há viagens regulares a partir do funchal, câmara de lobos, ribeira brava ou calheta. o elevador turístico funciona entre as 11h e 18h.
onde ficar
no local, o quarto duplo custa entre € 85 (para estadias de sete ou mais noites, na época baixa) e € 100
(entre duas e seis noites, na época alta). encerra de 11 de janeiro a 28 de fevereiro.
informações
fajã dos padres
estrada pdr. antónio dinis henrique, 1, quinta grande
ribeira brava – madeira
tel. 291 944 538