foi fisgado por uma mensagem electrónica. «tinha ar de ser daqueles emails que se mandam para todos mas que não interessam a ninguém». bastou contudo uma palavra para que o sentimento de rejeição inicial acabasse substituído por uma curiosidade irresistível: «li droga, pensei que houvesse ali um daqueles alertas contra cenas perigosas e acabei por abrir».
menos de três meses depois da decisão, ele, que não revela o nome, assume «alguns anos» de consumo de drogas em apenas «quase 21» de vida e reconhece o poder daquela mensagem, transmitida na forma de uma gravação. «foi depois de assistir a essa espécie de vídeo da moca [em que o efeito das substâncias lícitas é apresentado como mais estimulante do que o das ilícitas] que decidi experimentar a onda das drogas legais».
hoje confessa-se completamente rendido às propriedades «energéticas e ao mesmo tempo relaxantes» desses produtos, onde destaca os fertilizantes de plantas, comercializados como artigos impróprios para consumo humano, mas ainda assim promovidos como vias de acesso a viagens alucinantes.
«libertam muito mais a mente», defende o estudante enquanto solta a sua história, contada entre gargalhadas de cumplicidade dos amigos, partilhas de sensações estupefacientes e um pedido de grupo, dirigido às autoridades. «não fechem isto».
isto é a magic mushrooom, apresenta-se como uma loja de drogas legais e com apenas dois anos de funcionamento, no lisboeta bairro alto, prepara-se para quadruplicar os espaços de facturação. o milagre da multiplicação iniciou-se este ano com a inauguração de outro estabelecimento no também alfacinha bairro de alfama, deverá chegar ao porto em breve e já garantiu a duplicação dos atendimentos no bairro alto, onde, na terça-feira, a marca abriu mais uma porta.
o investimento promete aliviar as enchentes que, de segunda-feira a sábado, encolhem o pioneiro balcão da rua luz soriano. é aqui, perante um entra e sai de clientes, que a história do «vídeo da moca» é interrompida com uma proposta de consumo colectivo. custou 15 euros, é um dos fertilizantes disponíveis na magic, tem a forma de um frasco, cabe na palma de uma mão e chega com a promessa de risos descontrolados.
«dá para todos cheirarem», explica a única rapariga do grupo, destacando o estado de euforia que descobriu com a inalação do produto. «durante uns segundos só ria à toa». mas por esses instantes «do mais puro prazer», joana, nome fictício, acabaria por sofrer dois dias de «intensas dores de cabeça», efeito que dá razão aos alertas difundidos pelo instituto da droga e da toxicodependência.
«um dos principais problemas deste tipo de substâncias é que o facto de serem vendidas como produtos para plantas não as sujeita ao mesmo tipo de análise a que teriam de ser submetidas se estivessem autorizadas para consumo humano», nota paula vale de andrade, responsável pela área de redução de riscos dessa instituição. a falta de indicações claras sobre a composição dos fertilizantes também é destacada por fátima rato, médica coordenadora do centro de informação antivenenos. «os fertilizantes incluem sais minerais e outros materiais orgânicos incompatíveis com as situações de toxicidade que nos chegaram ao conhecimento», diz fátima rato, sem hesitar nas suspeitas. «uma coisa é o que vem descrito na composição da embalagem, outra o que pode lá estar misturado».