no momento em que tanto se falou da proliferação de fundações sem rei nem roque, o aparecimento da fundação francisco manuel dos santos (ffsm) é um exemplo do que se deve fazer. presidida por antónio barreto, a ffsm tem por objectivo promover o conhecimento e a discussão da situação do país, em todos os aspectos relevantes da sua vida colectiva. a escolha de barreto não podia ser melhor.
as primeiras opções editoriais, a selecção dos temas e dos autores e a estratégia de divulgação dos livrinhos editados são louváveis. pequenos livros, com um máximo de 100 páginas, sem profusão de notas nem abuso de gráficos, na medida do possível com uma linguagem acessível e uma exposição clara, temas de interesse comum tratados por autores competentes na sua área.
depois, a opção por edições baratas (máximo de 5,50 euros para os livros encadernados e 3,50 para as brochuras) e a distribuição em supermercados e quiosques, além das livrarias, garantem o sucesso desta iniciativa.
como prova do acerto da opção editorial, os quatro primeiros títulos já venderam cerca de 60 mil exemplares e estão nos top 10 da bulhosa e da fnac, o que, num país que não lê e que não se cultiva, é um triunfo e um contributo cívico inestimável.
li três dos primeiros títulos: o ensino do português, de maria do carmo vieira (mcv), comprei-o num supermercado; meti-o entre a mozzarella e o presunto de parma e o preço diluiu-se no rol das compras para o fim-de-semana. li-o de um fôlego, com estupefacção e escândalo. mcv é professora do ensino secundário e sabe do que fala. percebi finalmente, com raiva e indignação, a razão por que os alunos com que tenho lidado nas minhas aulas de cinema se revelam, de um modo geral, incapazes de se servir da sua língua e, por isso, incapazes de argumentar e perceber.
é um livro que destoa dos outros, pelo seu pendor polémico, pelo lado quase panfletário com que a autora ataca as reformas mais recentes dos programas de ensino do português que destruíram, em poucos anos, a curiosidade e o esforço dos alunos, a exigência e o critério, cedendo à facilidade e ao gosto comum, para «ir ao encontro» dos interesses dos discentes, trocando o estudo dos clássicos pelo «aproveitamento pedagógico da telenovela morangos com açúcar» ou a análise dos regulamentos do big brother.
justiça fiscal, o último contributo cívico de saldanha sanches, escrito numa maratona contra a morte, terminado numa cama do hospital, além de um testemunho admirável de generosidade e coragem, é um livrinho precioso para nos ajudar a entender a importância e a complexidade da tributação e distribuição dos impostos e o seu papel determinante no justo equilíbrio das sociedades.
já economia portuguesa. as últimas décadas, de luciano amaral, ajudou-me mais a entender as razões do nosso atraso e da crise actual e os dilemas do nosso problemático crescimento do que dois dias de retórica política e de discussões partidárias transmitidas em directo por todos os canais de tv.
