na entrevista a constança cunha e sá, quarta-feira, sócrates garantiu que «portugal não precisa de ajuda nem assistência para resolver os seus problemas» e disse que recorrer ao fmi seria «prejudicial» ao país.
mas ontem foi mais um dia de turbulência nos mercados. os juros da dívida portuguesa a dez anos atingiram 6,78%, um novo recorde. e, se o grau de alarme no governo fosse medido pelo número de intervenções de membros do executivo a garantir que não será necessário recorrer ao fmi, os socialistas estariam no nível ‘vermelho’. josé sócrates disse-o ao financial times, o secretário de estado do tesouro, costa pina, recordou-o à agência reuters, e vieira da silva e pedro silva pereira fizeram-no em declarações a jornalistas portugueses.
mas nenhum deles conseguiu acalmar a desconfiança dos mercados, que estão a ver à lupa as contas nacionais dos países com piores situações orçamentais. portugal está de mãos dadas com a irlanda, que vai atingir 32% de défice com a intervenção no anglo irish bank. lá, os juros já se aproximam de 8%.
com a subida dos juros de portugal, muitos economistas têm vindo a alertar para a necessidade de se recorrer ao fundo de emergência da zona euro, criado pelo fmi e união europeia. o presidente do fórum para a competitividade, pedro ferraz da costa, foi um deles, ao afirmar que o recurso ao fmi seria «melhor para os consumidores e para o país, que pagará taxas de juro mais baixas». também ferreira machado e nogueira leite, ambos docentes na universidade nova, admitem essa possibilidade (ver o confidencial de hoje). o conselheiro de passos coelho, aliás, é taxativo: «infelizmente para todos, o nosso pior pesadelo, a bancarrota sócrates, só não acontecerá por milagre».
o próprio ministro das finanças, teixeira dos santos, admitiu recentemente que, se os juros atingirem o patamar dos 7%, a opção do fmi começa a colocar-se. embora os juros de 6,78% sejam o valor cobrado pelos investidores quando transaccionam dívida portuguesa entre eles, as contas nacionais serão penalizadas quando o estado português tiver de fazer emissões de obrigações ou bilhetes do tesouro, no futuro, e os encargos subirem. esta semana, o instituto de gestão da tesouraria e do crédito público fez uma emissão de dívida de curto prazo e os juros voltaram a aumentar.
o recurso ao fmi implicaria o cumprimento de apertadas regras orçamentais. a grécia, que já tinha aumentado o iva e reduzido os salários antes de recorrer ao fundo de emergência, foi forçada a aumentar mais os impostos e a fazer uma reforma da segurança social para reduzir as pensões. as consequências das políticas restritivas impostas pela instituição liderada por dominique strauss-kahn seriam, quase inevitavelmente, uma recessão e o aumento do desemprego.
de resto, as intervenções do fmi não são consensuais. muitos economistas recordam intervenções menos bem sucedidas, como a da argentina, há uma década. esta semana, o antigo ministro das finanças campos e cunha admitiu, em entrevista ao público, que «teria muita vergonha que fosse necessária a vinda do fmi», que «não é uma instituição em que acredite».