cada um vive perdido no seu labirinto e o meu talvez seja formado pelo amor, pela paixão e pela amizade. são estes os três temas que me levam a escrever na imprensa há mais de 20 anos e nos livros há mais de dez.
chegou esta semana às livrarias o meu 16.º livro, a minha casa é o teu coração, título longo para um conjunto de cartas entre amigas, amantes, namorados, apaixonados, maridos traídos, mulheres enganadas e viúvas tristes e alegres, ao longo das quais se vai dissertando sobre a vida como ela é, ou como devia ser, nestas coisas do coração.
maria é a romântica incurável que aprende a custo a pôr os pés na terra graças ao bom senso e à lucidez, tantas vezes implacável, das suas melhores amigas; mas também elas precisam de conselhos e de ajuda nas questões sentimentais e é por isso que o livro se transforma num puzzle de conselhos e de reflexões mais ou menos sérias sobre a condição amorosa de cada um.
algumas personagens usam o humor e a ironia para a explicação do mundo; já outras preferem o romantismo e a idealização para pintar o cenário de cores claras e suaves. e estas mulheres, não só são todas diferentes, como se pode respirar a evolução de cada uma ao longo das cartas que vão trocando. maria, por exemplo, tanto pode sentir num momento de tristeza que «isto do amor é uma coisa complicada, começa-se do nada, vive-se na ilusão de que se tem tudo, mas o que fica quando o amor acaba é um nada ainda maior», como afirmar num momento de alegria: «gosto de sexo, de queijo, de dizer tudo o que penso e de andar de bicicleta».
e depois é a voz dos homens, que conversam entre si sobre o complexo universo feminino, que escrevem às mulheres que amam, ou que já amaram, pedindo desculpas, fazendo tréguas, tentando reconquistá-las ou apenas agradecendo momentos que passaram juntos.
o discurso masculino é todo ele mais claro, menos ambíguo, talvez até mais honesto, porque é certamente mais leal. e é neste emaranhado de histórias às fatias que percebemos o quanto custou a maria esquecer o diogo e porque é que, por mais voltas que dê à vida, manuel nunca esquecerá a sua ex-mulher.
os livros acabam e a vida continua, por isso é que é sempre penoso terminar um livro. e é assim que acabo por deixar as histórias em aberto, para mais tarde poder voltar a elas; os meus leitores mais atentos já conhecem esta maria, que já se chamou leonor, madalena, inês… e também já riram com a naná, protagonista de outro romance, tal como acontece com eduardo, que também não mudou de nome, atravessando várias histórias.
as voltas que dou no meu labirinto nunca são em vão: procuro sempre respostas e a vida ensinou-me a aceitá-las mesmo quando não são as que desejo ou espero. e a minha casa é, e será sempre, o coração dos que mais amo. não sei escrever, nem viver de outra forma.
e o melhor de tudo isto é que sou feliz assim, a ouvir o meu coração que bate forte dentro do peito e que fala sempre mais alto do que a cabeça.