Nas Bocas do Mundo – Silvio Berlusconi

O septuagenário primeiro-ministro de Itália colecciona escândalos e testemunha a deserção de deputados e governantes da aliança de direita que lidera.

após a aprovação do orçamento do estado – a hipótese de reprovação nem sequer é aventada –, o magnata que começou como entertainer de cruzeiros irá submeter-se no mesmo dia a uma moção de confiança no senado e a outra, mas de censura, na câmara. perante as revelações da relação com mais uma menor e a desagregação do governo, após a demissão de cinco elementos, dir-se-ia que os seus dias estão contados.

se há qualidade, porém, que até o mais fogoso adversário tem de lhe reconhecer é a resiliência (outra é passar, até agora, entre as gotas da tempestade dos países com contas públicas deficitárias). ancorado no seu império mediático – que o promove como às veline, as beldades que enchem o espaço televisivo italiano –, berlusconi tem quase um mês para reconquistar fidelidades entretanto perdidas para gianfranco fini, o ex-aliado que fundou um partido rival.

não será igual às compras no mercado de inverno do futebol com o seu ac milan, mas quase, garantem os jornais. ainda que não consiga comprar deputados suficientes, berlusconi não teme ir a votos. além de não estar no seu feitio – parece apenas temer «juízes vermelhos» – não terá um adversário à altura. se o escritor de gomorra, roberto saviano, concorresse, talvez o responsável por uma itália económica e moralmente em decadência perdesse a eleição. saviano foi visto por 9 milhões de espectadores (recorde na rai3) ao denunciar as ligações da liga do norte (aliados de berlusconi) com a máfia da calábria.

césar avó