Um estrangeiro em Luanda

Depois de libertado, leão só lamentou ter ficado sem o seu comprimido.

o grupo de três aproximou-se da porta e os seguranças avançaram na sua direcção. os dois portugueses foram os primeiros a ser revistados e um deles acusou uma substância que inquietou o empregado da discoteca. levava no bolso do casaco uma lamela de comprimidos para a gripe, que provocaram um barulho suspeito depois de apertados. «pastilhas?», perguntou o segurança.

que não, disse o meu amigo. «são brufen, estou engripado», tendo ao mesmo tempo esboçado um sorriso com a situação. apesar do ar desconfiado do empregado encorpado, subimos a rampa para nos dirigirmos à rapariga que ‘serve’ as senhas de consumo mínimo: três mil kwanzas, pouco mais de 30 dólares. enquanto esperávamos que o nosso amigo angolano fosse aprovado na revista, já que os seguranças estavam a embirrar com algo que ele tinha no bolso, recusámo-nos a pagar o consumo mínimo e a entrar na discoteca, o que causou alguma confusão à porta.

ao fim de cinco longos minutos sem notícias, decidimos ultrapassar a cortina que nos impossibilitava de ver o que se passava na porta propriamente dita. não o tendo encontrado, decidimos abandonar a discoteca e fomos à sua procura. depois de um telefonema, percebemos que estava detido junto à esquadra móvel da polícia, na ilha de luanda.

estávamos a caminhar na sua direcção e o meu amigo soltou uma gargalhada. «estás a rir do quê? então o leão está detido e tu estás a gozar?», disse irritado. quando nos aproximámos dos polícias e do segurança que tinha apresentado queixa, o meu amigo tirou um comprimido do bolso, que me disse ser vasodilatador, e perguntou se estavam a deter o leão por ter sido apanhado com um daqueles… foi a risota completa, exceptuando o segurança que não gostou de ter sido apanhado em falso. «não conheço essa marca», foi a única coisa perceptível que disse. depois de libertado, leão só lamentou ter ficado sem o seu comprimido.

vitor.rainho@sol.pt