china compra dívida de portugal; portugal compra dívida da irlanda; governo do bloco central precisa-se; remodelação governamental está em marcha; ministros das finanças e dos negócios estrangeiros estão de saída; greve geral ameaçada pelo governo; requisição civil está prevista numa sociedade democrática; casa pia continua a fornecer redes pedófilas; desemprego atinge números históricos ou crescimento económico será negativo em 2011 são alguns dos títulos que vejo nos sites dos jornais portugueses ou a que assisto na sic notícias e na rtp n.
confesso que fico perplexo perante alguns deles, já que não entendo como tal seja possível. outros deixam-me desalentado e de outros sinto vergonha, por constatar que continuam a ser uma realidade. infelizmente não vejo uma única notícia positiva, tirando as vitórias futebolísticas. é verdade que já começam a aparecer empresários que gostariam de fazer parte da solução do problema, mas que não contam com os políticos para resolver a crise nacional. o descrédito partidário está a atingir proporções preocupantes e aqueles que clamam por um governo de salvação nacional devem acreditar no pai natal. o que será praticamente o mesmo que acreditar que os talibãs chefiados por bin laden algum dia poderão negociar genuinamente com os americanos um cessar-fogo no afeganistão.
de onde escrevo, luanda, ouve-se falar em crescimento económico superior a sete por cento para 2011; ninguém percebe o sentido da palavra crise, tirando as famílias que vivem no limiar da pobreza, mas que apesar de tudo preferem viver num musseque a irem para uma região do país onde está ser feito o repovoamento e onde teriam muito mais qualidade de vida. angola é um país em crescimento acelerado e com um território vastíssimo praticamente virgem. há grandes desigualdades sociais, mas os mais pobres não querem sair de luanda, por exemplo. seguem um estilo de vida que tem muito a ver com o nome que dão às cadeiras de plástico: ‘espera condições’. crêem genuinamente que o futuro será mais risonho e, apesar de todas as contrariedades, vivem os fins-de-semana como se a vida se consumisse nos sábados e domingos. a expressão ‘espera condições’ revela crença no futuro. futuro esse que é bem visível nos milhares de crianças que enchem as ruas de agitação; no frenesim com que se metem uns com os outros; na alegria com que dançam ao som dos seus ritmos inconfundíveis.
na europa, onde existem as democracias mais antigas do planeta, as palavras mais em voga são: crise, desemprego e depressão. qual a razão para se ter chegado a este ponto? uma ambição pelo lucro sem limites? é tempo de apostar no bom senso.
