Gestão ruinosa no Taguspark

Rui Pedro Soares, administrador não executivo do Taguspark, foi o interlocutor do escritório de José Miguel Júdice num projecto-fantasma de criação de um grupo de comunicação social, que incluía a TVI. Os auditores dizem que o processo está pejado de irregularidades.

a revelação é feita pela própria plmj numa carta enviada à bdo – sociedade de auditoria que analisou os três últimos exercícios do taguspark a pedido da actual administração, liderada por nuno crato. «em quase todos os casos em que é citado o interlocutor do taguspark perante a plmj, esse interlocutor é um administrador não executivo da empresa (rui pedro soares)» – lê-se no relatório da bdo a que o sol teve acesso.

recorde-se que rui pedro soares, entre 2008 e 2009, liderou um projecto para formar um grande grupo de comunicação social, em que o taguspark, com outros investidores, compraria a maioria do capital social da tvi. a revelação surgiu nas escutas telefónicas do processo face oculta.

os auditores da bdo concluem que os serviços prestados pela plmj para a operação tvi custaram 229 mil euros – mas são um exemplo de despesas «sem aparente relação com a actividade do taguspark ou em que não é facilmente demonstrável a sua indispensabilidade para a empresa». logo, dificilmente tais custos serão reconhecidas enquanto tal pela administração fiscal.

a contratação da plmj, que além da operação tvi também efectuou uma proposta de alteração do acordo parassocial e uma auditoria à taguspark, custou um total de 733 mil euros e é apontada pelos auditores como um exemplo de como as regras internas foram desrespeitadas.

além de não ter sido realizada nenhuma consulta ao mercado, a taguspark também não pediu um orçamento prévio nem assinou qualquer contrato com o escritório de josé miguel júdice.

a comissão executiva então liderada por américo thomati permitiu, mesmo assim, segundo os auditores, que fossem pagos 450 mil dos 733 mil euros facturados pela plmj, encontrando-se o remanescente a aguardar pagamento.

facturação irregular

outra questão, que assume «contornos de particular gravidade» segundo os auditores, prende-se com a acusação da bdo de facturação irregular: «os fornecimentos facturados (pela plmj) não têm adequada correspondência com os serviços efectivamente prestados».

no dossiê tvi, dizem os auditores, a plmj facturou «serviços jurídicos por estudos relativos ao lote 31», um terreno do taguspark. como não localizaram nenhuma documentação que justificasse tal factura, os auditores pediram explicações. a plmj enviou então um parecer de josé miguel júdice sobre a compra da tvi pelo taguspark, assim como uma discriminação pormenorizada sobre os serviços contratados.

nesta documentação, os auditores constataram que os mesmos foram prestados «entre agosto de 2008 e junho de 2009» e referem-se «a uma designada ‘operação tagus’ e a ‘trabalhos que envolvem a prisa, a tvi e a media capital’, ‘agências de comunicação espanholas, o besi, uma opa obrigatória, acordos entre investidores e a utilização de uma entidade veiculo’».

na mesma documentação, constata-se que rui pedro soares é «em quase todos os casos» o «interlocutor do taguspark perante a plmj», afirmam os auditores. houve apenas duas reuniões e conversas com américo thomati.

foi ainda emitida facturação pelo escritório de júdice sobre «serviços jurídicos alegadamente relacionados com estudos do lote 33», mas os mesmos, dizem os auditores, «referem-se essencialmente à fase ii de uma auditoria legal solicitada à plmj». esta terá custado cerca 500 mil euros por «1.935 horas de trabalho por parte de 32 advogados» daquele escritório, lê-se no relatório. a referida auditoria, porém, «não foi encomendada pelo taguspark», mas sim por isaltino morais, presidente da câmara de oeiras (accionista principal do taguspark), que indicou a américo thomati a contratação da plmj.

apesar do respectivo trabalho de campo ter sido realizado em fevereiro de 2009, o escritório de júdice ainda não terminou o trabalho, conclui a bdo.

júdice desmente

contactado pelo sol, júdice negou qualquer irregularidade nas facturas: «isso é um disparate completo. os serviços relacionados com os lotes 31 e 33 foram efectivamente prestados. os auditores deveriam ter perguntado à plmj que nós demonstraríamos facilmente o que estou a dizer», afirmou.

quando ao facto de os trabalhos da auditoria de 2009 ainda não estarem terminados, júdice garante que o seu escritório realizou duas auditorias. «uma ainda não foi concluída porque o cliente não chegou a enviar a informação que solicitámos», explica.

300 mil euros para tiago monteiro

a contratação de luís figo – que originou uma acusação do ministério público, por corrupção passiva, contra rui pedro soares e américo thomati – não foi analisada. o caso merece apenas uma referência no contexto de uma proposta dos auditores para que se introduza em futuros contratos de imagem uma cláusula indemnizatória que obrigue «as personalidades em causa a manter uma boa reputação e imagem perante a sociedade», sob pena de terem que indemnizar a empresa.

já o caso de tiago monteiro – piloto de automóveis contratado em 2008 pelo taguspark para ceder os direitos de utilização de imagem por quatro anos, por 300 mil euros – é duramente criticado pelos auditores. à excepção de uma sessão de autógrafos, o taguspark nunca usou a imagem do piloto. «um acto de gestão muito pouco defensável», censuram os auditores da bdo, rui caseirão e emanuel gonçalves pereira.

luis.rosa@sol.pt