se a europa já sofria as consequências dos desmandos da ordem financeira mundial, nos meses que se seguiram a situação foi-se agravando até ao ponto em que estamos hoje: numa encruzilhada em que as fundações da união europeia são postas em causa. o timing não podia ser pior para um dirigente político que pode ser muito boa pessoa, mas à qual falta o necessário carisma dos líderes.
a escolha de um cinzento, conta-se à boca cheia, foi imposição dos governantes de egos inflados. logo na primeira deslocação ao parlamento europeu foi recebido de forma insultuosa pelo deputado britânico nigel farage: «o senhor tem o carisma de uma esfregona húmida e a aparência de um empregado bancário (…) e vem da bélgica, que ainda por cima é um não-país».
diz quem o conhece, porém, que o economista flamengo herman van rompuy é um pragmático por excelência, um homem discreto que conseguiu obter alguns sucessos, sem contudo ter recolhido os louros. «sem rompuy, a crise do euro da primavera passada teria sido catastrófica», comenta um diplomata grego ao le soir. a falta de rumo e de uma visão de futuro da ue – que para um dos grandes construtores do projecto europeu, jacques delors, se deve à alemanha de angela merkel – é um dos pontos em que o belga devia ter sido mais enérgico em contrariar. nos últimos dias, porém, deu sinais de ter trocado a costumeira cerveja do almoço por potes de café: «enfrentamos uma crise pela nossa sobrevivência. se a zona euro não sobreviver, a ue também não sobreviverá», avisou na semana passada. federalista, já tinha afirmado que em cada estado-membro «há pessoas que acreditam que o seu país pode sobreviver só neste mundo globalizado; mais do que uma ilusão, é uma mentira».
agora, num aparente braço-de-ferro, afirma que portugal é um caso diferente da irlanda e que a ideia de contágio é absurda, pouco depois de merkel ter augurado a hipótese «extremamente séria» de haver mais resgates. podem ter sido palavras deitadas ao vento, mas ao menos fez o que lhe competia: defender portugal e a ue, ao contrário da táctica incendiária da chanceler.
césar avó