perguntam-me muitas vezes se sou feminista. nunca tenho a resposta concertada, afinada, definitiva, porque nunca sei o que é que as pessoas querem dizer quando se referem ao termo. o conceito é lato e ambíguo, dado a confusões e a equívocos, carregado de conotações e gerador de anticorpos, quer nos homens, quer nas mulheres.
se ser feminista implica o acto continuado e consciente de lutar sempre e em qualquer circunstância pela igualdade do género, combater a misoginia e defender os direitos fundamentais e a liberdade das mulheres, então sou. se for queimar soutiens, negar a feminilidade e cortar o peito como as amazonas, então nem pensar, até porque o peito é das coisas mais bonitas de que uma mulher se pode orgulhar e, além disso, adoro a minha colecção de lingerie. sou fã de chantal thomass, victoria’s secret e l’agent provocateur, entre outras. aliás, a minha paixão por lingerie não vai tão longe como a paixão pela escrita, mas está a par com a paixão por botas, sapatos e carteiras, porque antes e depois de ser feminista, sou muito feminina e gosto muito de o ser.
acredito que as mulheres podem formar uma boa equipa com os homens, em casa na família e em sociedade na gestão do poder. as mulheres têm em geral mais sensibilidade para os problemas sociais, pois são elas quem faz a ponte entre a casa e o mundo. e também são elas que quase sempre dominam o espaço familiar, deixando espaço para que os homens possam reinar, enquanto elas governam.
mesmo numa sociedade tão machista como a norte-americana – basta pensar que não está estruturada para mães trabalhadoras, já que as avós raramente estão por perto e o trabalho de mãe é encarado com um full time job, tal como o de esposa –, a realidade está a alterar-se. o clássico provider americano que traz dinheiro para casa e sustenta a família – os latinos, tantas vezes preguiçosos, podiam aprender alguma coisa com eles – adapta-se agora a mulheres fortes, que podem vestir calças no escritório, mas gostam de uma boa lingerie na vida íntima.
as clivagens parecem-me agora menos marcadas do que há uns anos, embora o abismo entre os dois sexos nunca venha a ser ultrapassado. o que se passa é que existem já muitos homens que reconhecem e apreciam mulheres fortes, e essas mesmas mulheres já aceitam que, por mais independentes e bem sucedidas que sejam, precisam de um homem ao lado. como dizia a adorável charlotte em sexo e a cidade, «in the end we all want to be rescued», e quem o negar, ou já entrou na idade em que não está para se maçar com nada nem com ninguém, ou anda numa fase má.
uma mulher gosta tanto de ser independente como de se sentir protegida. o que uma mulher independente não gosta é de atitudes paternalistas. proteger não é o mesmo do que exercer paternalismo. aceitar o paternalismo vai contra os meus instintos feministas, mas ser alvo de protecção agrada à minha génese feminina. e, já agora, também gosto que me digam que estou bonita e que a minha lingerie é de bom gosto, a par com os sapatos e as carteiras, até porque não me sinto a perder neurónios por isso.