Nas Bocas do Mundo – Hillary Clinton

Para que o escândalo não rebentasse sem aviso telefonou a uma série de políticos próximos, visados nos documentos que a Wikileaks expôs.

já com as primeiras fugas publicadas, reagiu como pôde: «não há nada de elogiável em pôr em perigo pessoas inocentes, e nada tem de corajoso sabotar relações pacíficas entre nações».

depois, num assomo de génio, a secretária de estado norte-americana recorreu à melhor arma para as situações mais embaraçosas: o humor. «nas minhas conversas, pelo menos um dos meus homólogos disse ‘bom, não se preocupe, devia ver o que dizemos de si’».

uma excelente saída para tentar menorizar uma fuga de informação que, quer pelo conteúdo, quer pela quantidade, quer ainda pela forma como se terá efectuado, é uma bofetada de luva branca no poderio da maior potência mundial – e na pessoa que chefia as relações externas.

jactante, o presidente venezuelano hugo chávez aproveitou a deixa para exigir a demissão de hillary clinton e de perorar contra o «império» que «ficou nu». a gravidade dos poucos documentos expostos até agora – em especial as instruções de espionagem ao secretário-geral da onu – podiam de facto dar azo à exoneração.

mas a reacção de hillary, bem como a da casa branca, afastaram esse cenário. mais: dando provas da sua capacidade de choque, atirou-se para o olho da tempestade ao viajar para a cimeira da osce no cazaquistão – cujo presidente nazarbayev não fica bem nos relatórios diplomáticos –, onde se encontrou com ban ki-moon ou berlusconi. «não temos melhor amigo», disse do governante italiano, tido pelos seus diplomatas como «irresponsável e vaidoso» . um exemplo do esforço de hillary para ultrapassar a adversidade.

mas se os cacos das relações diplomáticas podem ser colados – pelo menos por ora –, já o enorme buraco na segurança do estado parece mais difícil de tapar. e decerto não passará pela eliminação do líder da wikileaks, julian assange, proposta por alguns (ir)responsáveis políticos. matar o mensageiro, mostra-nos a história, nunca acabou com as más notícias.

césar avó