Voar de balão ao sabor do vento

Sobrevoámos a paisagem ribatejana de Coruche num voo de balão low cost. 60 a 90 minutos no maior balão da Península Ibérica é a mais recente experiência de A Vida é Bela.

um texto sobre balões que não comece com a canção de manuela bravo não é um texto sobre balões. o subconsciente trauteia-a. «o lugar ideal para amar» é bem lá em cima, quando «sobe sobe, o balão sobe», cantava a artista no festival eurovisão de 1979. «não preciso vistos nem uso passaporte», dizia ela, mas a verdade é que esse etéreo ninho de amor nunca esteve ao alcance de qualquer um.

o preço médio para uma pessoa voar de balão é de €150, mas a empresa de cheques-prenda a vida é bela reduziu recentemente os custos para metade (€74,90), com um balão onde entram 26 passageiros e cujas viagens se realizam todas as sextas-feiras de manhã. pode não ser tão romântico quanto um voo a dois – que é possível e está acima dos €500 -, mas vale-lhe o título de maior balão de ar quente da península ibérica. «este é de momento o voo de balão mais barato do mundo», acredita o balonista guido van der velden, fundador da empresa wind passenger e o piloto habitual do balão.

fomos ao seu encontro em coruche, santarém, onde está sediada a sua empresa e razão pela qual aí se fazem estes voos low cost. «costumo dizer que esta zona foi feita para voar de balão, tem quase um micro-clima que permite viajar o ano inteiro», comentou o piloto. ainda assim, não é todos os dias que se reúnem as condições atmosféricas necessárias para o fazer.

não pode chover e tem de haver boa visibilidade; a 150 metros de altitude a velocidade do vento tem de ser inferior a 45 km/h e para aterrar o vento tem de ser inferior a 20 km/h. por isso, só com dois dias de antecedência se consegue confirmar a realização das viagens.

é este «jogo de antecipação» causado pela dependência do vento que fez com que guido, holandês de nascença, não resistisse ao balonismo, actividade iniciada em portugal pelo seu pai. «um voo nunca é igual a outro, aterramos onde o vento quiser». nem que seja num campo com ovelhas e cabras, como já lhe aconteceu: «num minuto estavam todas à minha volta a tentar comer o tecido do balão».

eram sete e meia da manhã quando chegámos ao terreno, em coruche, como combinado na véspera. mantivemo-nos no carro enquanto lá fora a equipa de guido desenrolava o extenso envelope do balão, erguendo os seus 12.000 m3 com a ajuda de cordas robustas e da força de duas ventoinhas.

caminhámos para o transporte aéreo, enregelados, quando o sol começou a despertar no horizonte. por esta altura os raios solares têm pouca força para aquecer a superfície da terra, o que origina correntes térmicas favoráveis ao levantamento do transporte, explicou-nos o piloto. entre novembro e abril também se fazem voos antes do pôr-do-sol, mas dizem que é ao nascer do astro-rei «que a magia acontece».

ouviram-se guinchos de surpresa de quem nem se apercebera da descolagem, tal a estabilidade do cesto. «é tão leve…». guido sorria, já esperando as reacções. «mesmo quem sofre de acrofobia não costuma sentir vertigens», comentou, quebrando com o som do queimador o silêncio que se ia instalando. «é engraçado como no início não nos calamos e depois aqui em cima só queremos ficar em paz», comentou um dos passageiros.

o vento levou-nos para as zonas da azervadinha, agolada, fajarda. ao ritmo ribatejano, coruche despertava aos nossos pés. sobrevoámos campos de arroz, quintas com galinhas, ovelhas e cavalos, acenámos às crianças que corriam para nos ver no jardim da escola, troçámos de um rufia que nos tentou atirar uma pedra, tentámos tocar numa extensa colcha de pinheiros mansos… e acabámos por aterrar num campo com touros a pastar. «ainda por cima o nosso balão é vermelho».

guido sossegou-nos: «eles não vêm atrás quando somos muitos». o staff chegou dentro de minutos para voltar a empacotar o balão e levar-nos de volta ao ponto de encontro. já com os pés assentes na terra, um grupo de amigos questionava-se sobre qual seria a sua próxima aventura. «vai ser difícil superar isto», murmuraram.

aisha.rahim@sol.pt

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