quando as mulheres estavam menos disponíveis, os homens investiam muito mais tempo a tentar conquistá-las. mas estou a falar de outros tempos, acerca dos quais recordo uma tirada clássica do meu pai: «os homens divertem-se com as fáceis e casam com as outras».
no tempo em que o meu pai era novo, o mundo ainda estava arrumado segundo a dicotomia implacável que separava as chamadas ‘fáceis’ das ‘sérias’. claro que isto nunca foi tal e qual como parecia, havendo sempre do lado das tais ‘fáceis’ boas raparigas que deram grandes mulheres e excelsas esposas, da mesma maneira que, em todas as gerações, as chamadas boas raparigas também fugiam com o cunhado, com o marido da melhor amiga ou com o patrão.
não é disso que esta crónica trata. o que me apraz comentar aqui é o facto – talvez irreversível – de os homens estarem a perder as suas aptidões galanteadoras. a oferta feminina crescente, quer por parte das profissionais do prazer, quer por parte das mulheres em geral que se libertaram dos jugos castradores da culpa, da preservação da virgindade enquanto sinónimo de honra e de alguns pudores relacionados com a sedução e com o acto sexual em si, facilitaram a vida aos homens com consequências perversas. agora, com tanta oferta, um tipo com boa aparência ou com posses que faça dele um alvo minimamente atraente não precisa de andar atrás delas, porque são elas que andam atrás dele. e, a não ser que se fixe numa mulher em particular, às tantas qualquer uma serve, desde que cumpra o que para ele é importante, e que nos homens passa (quase) sempre pelo sexo.
lá estou outra vez a ser injusta e redutora, protestam os leitores masculinos que se têm em conta como homens sérios e dotados de critérios selectivos em relação às mulheres. estes que me perdoem, no caso de sentirem que estão a pagar as favas dos pecadores sendo eles inocentes, mas o que é facto é que ter sexo é uma coisa e gostar de uma mulher é outra.
quem me explicou tal teoria foi um amigo muito galanteador, daqueles predadores profissionais com quem só é possível ter uma relação totalmente assexuada, sob risco de se perder a cabeça e o resto em caso de distracção. e tal explicação deixou-me mais descansada, apesar de tudo. é que se assim for, um homem que goste de uma determinada mulher até pode ir para a cama com dez capas da maxmen que não deixa de amar a outra, sobretudo se a outra não for presa fácil de apanhar. como já escrevi num dos meus romances, quando uma mulher foge, é porque quer ser apanhada.
voltemos à minha teoria inicial: se um homem tiver de lutar para conquistar o coração – e o corpo – de uma mulher, quando conseguir ocupar ambos os territórios, irá sentir-se mais gratificado do que se isso lhe for entregue sem luta. para isso é preciso que ele saiba ser galanteador e que a mulher lhe dê tempo e espaço para tal. é como quando vamos jantar fora e fazemos o pedido; se o prato aparece logo na mesa, desconfiamos. é o compasso de espera que torna a iguaria mais saborosa, mesmo que na cozinha o chef se tenha limitado a usar o micro-ondas. disponível para amar é bom, desde que isso não seja servido de bandeja.