é verdade, mas há incoerências mais graves. por exemplo, o facto de assange estar detido sem direito a caução devido a uma oportunista e descabelada (ao que tudo indica) acusação de crimes sexuais e a mesma justiça britânica ter libertado o terrorista líbio de lockerbie após ameaças do regime de kadhafi de suspender negócios milionários em curso – como foi revelado esta semana pela organização.
é informação como esta que o australiano de 39 anos se propôs descobrir, na linha de um memorando de barack obama quando chegou à casa branca: «a abertura vai fortalecer a nossa democracia e promover a eficiência e eficácia no governo».
assange começou por expor manuais da cientologia, relatórios das reuniões do grupo bilderberg ou um derrame tóxico que afectou cem mil pessoas na costa do marfim. até há pouco grangeou respeito da comunidade internacional. passou num fósforo de maverick a pária a partir do momento em que o site alojou ficheiros sobre as guerras no afeganistão e no iraque e, sobretudo, após a fuga maciça de mails diplomáticos norte-americanos.
é verdade que alguns excessos – como a publicação da lista de locais estratégicos ou a devassa da privacidade de políticos – podem estar a ser cometidos e as relações entre washington e outras capitais (como moscovo) podem arrefecer por uns tempos. mas os efeitos podem ser mais benéficos que prejudiciais. não é absurdo haver quase um milhão de funcionários com acesso a documentos secretos?
por outro lado, estas revelações não causam engulhos só aos eua – com excepção do embaraço da espionagem na onu, é dos regimes não- -democráticos que se conhecem os pormenores mais escabrosos. assange pode ser megalómano, mas está a fazer história. como se comprova pela infoguerra que decorre entre seus perseguidores e defensores.