a sugestão era conhecer arcos de valdevez… a cavalo. o receio – escondido no recanto mais íntimo da nossa alma – era o de quem ia montar pela primeira vez na vida. não fomos os únicos a entrar no picadeiro da quinta do fijó, na freguesia de vila fonche, a cerca de 1,5 km do centro da vila minhota, com aquele friozinho na barriga. o dono, carlos orlando rodrigues, explica que «noventa por cento das pessoas que se inscrevem nesta actividade nunca montaram um cavalo». e são as que vêm em maior número, acrescenta o filho da terra que, após anos emigrado nos estados unidos da américa, regressou com outra visão do concelho. «depois de viver em nova iorque durante 10 anos, dá-se outro valor ao que temos», assegura.
paulo lopes, da oficina da natureza, a empresa de animação turística que organiza o passeio a cavalo por terras do vez, explica que os participantes, «normalmente, passam a manhã na quinta. fazem um volteio [andar às voltas no picadeiro, com a ajuda de um monitor ou tratador que acompanha a pé], para se habituarem à postura no cavalo. soltam as rédeas, inclinam-se para a frente e para trás. depois limpam o cavalo, selam-no e, no regresso à quinta, lavam-no».
feito o ‘aquecimento’, os participantes já saem da quinta do fijó a trote ou a galope. o almoço (ou piquenique ao ar livre, quando o tempo o permite), incluído no preço do passeio, pode ser antes ou depois de partirem à descoberta da região, dependendo do tempo despendido no picadeiro.
fomos convidados a subir para cima dos cavalos da quinta do fijó, «cruzados de garrano, lusitano e sorraia», explica carlos rodrigues. «são mais calmos, à excepção desta égua branca, a neve, que é um lusitano. eu preciso de um cavalo assim para controlar o grupo», refere o responsável.
a nossa companheira neste passeio incrível será a estrela, uma égua com seis anos e «simpática», afiança carlos. colocando um pé no estribo, subimos de uma assentada para o dorso da estrela. carlos explica-nos como seguramos as rédeas. é com os polegares que a controlamos, puxando-a ou soltando-a. a expressão ‘rédea curta’ ganhará uma dimensão totalmente diferente depois desta experiência.
os primeiros momentos são muito importantes e, infelizmente, a estrela percebeu logo «que a dona era boazinha», nota carlos, pois passará todo o passeio a inclinar-se para a frente para comer a vegetação, ignorando-nos quando tentamos puxar as rédeas para seguir caminho. temos de puxar as rédeas para que o cavalo se endireite – e se quisermos que ande para trás -, soltamo-las para incentivar a andar mais depressa, a trote – quase todo o passeio foi feito a passo -, e batemos ligeiramente com os calcanhares na sua barriga se teimar em ficar parado.
assim que saímos da quinta do fijó, atravessamos a estrada e embrenhamo-nos na natureza. à pergunta de alguém que vem na cauda do grupo sobre se tudo corre bem, carlos responde que a nossa cara está da cor da neve, a égua que monta, branca. deve estar. o coração bate acelerado e o corpo sua à medida que os cascos da estrela parecem resvalar no caminho empedrado que subimos. para subir, o cavaleiro deve inclinar o corpo para a frente. nas descidas, fazemos o contrário, inclinamos o corpo para trás, vai orientando o instrutor.
a chuva começou a cair e, quando chegamos à freguesia de monte redondo, no eucaliptal da portucel, a estrela faz questão de ir direitinha à folhagem das árvores. enquanto passa pela vegetação sem problemas, nós levamos ora com as folhas no rosto, ora com as pesadas gotas de água. se fossemos mais experientes, controlaríamos o cavalo; assim, temos de nos sujeitar!
o passeio leva-nos à capela de santo amaro, ao monte do castelo – onde fica o miradouro do castelo medieval de santa cruz, mas esse desvio ficará para a próxima, por causa da chuva – e à aldeia de devesa. duas horas e meia depois, ainda não ganhámos confiança, mas já seguimos com um certo à-vontade.
desfrutamos da paisagem verde, da frescura abundante, da arquitectura solarenga e da simpatia das pessoas com quem nos cruzamos. findo o passeio, vamos saborear a gastronomia local.
regressamos aos arcos, vila histórica cuja vaidade parece espelhar-se no rio vez, e almoçamos no minho verde, junto à casa das artes. vamos no arroz de sarrabulho, que «as más-línguas dizem que é muito melhor do que muitos em ponte de lima», como confidencia josé pereira. o dono do restaurante desafia-nos a experimentamos o vinho verde aguião. bebemos de uma malga, claro.
«sou um agregador de recursos humanos, olho para o que há na região e preparo programas como este. a promoção ainda é uma área onde as pessoas apostam pouco», explica paulo lopes, da oficina da natureza, que procura «dinamizar as infra-estruturas locais junto de operadores internacionais ligados ao eco-turismo».
o passeio de hoje foi uma amostra do que se pode explorar por estas paragens, mas para cavaleiros de primeira viagem foi uma aventura. para os mais experimentados há programas de três e seis dias a cavalo no parque nacional da peneda-gerês e na paisagem protegida do corno de bico.
sol