na era da globalização, as pessoas discutem muito. seja nos blogues, nas redes sociais ou na comunicação social. muitas verdades definitivas são sentenciadas e, qualquer que seja o tema em discussão, uma parte dos intervenientes defende categoricamente a sua posição, enquanto a outra afirma o contrário. ninguém quer adoptar uma posição moderada, como se a vida fosse apenas a preto e branco.
os oponentes defendem, muitas vezes, causas como se as mesmas lhes dissessem alguma coisa directamente ou lhes fossem familiares. alguns dos ‘opinadores’ profissionais, que nunca fizeram nada na vida senão ‘mandar bitaites’ – sempre que meteram ‘as mãos na massa’ revelaram-se um fracasso total –, gostam de reclamar para si a verdade absoluta e, pelo meio, insultam aqueles que não vão no pensamento único.
desde adulto que não me sinto muito à vontade em discussões em que os argumentos se radicalizam. não consigo afirmar taxativamente se um lance de futebol foi bem ou mal avaliado pelo árbitro depois de o lance em questão ser repetido até à exaustão e não se ver claramente se é ou não pénalti.
quando muito, defendo uma posição, mas não digo que o árbitro agiu mal propositadamente. além disso, há situações que são humanamente impossíveis de avaliar. há estudos que provam que, em situações complicadas, nenhum fiscal de linha pode ver com exactidão se um jogador está ou não fora de jogo. a não ser que tenha a capacidade de olhar para dois lugares ao mesmo tempo.
se é assim no futebol, na vida política as situações tornam-se ainda muito mais complexas. há muito jogo de bastidores e, provavelmente, só muitos anos depois é que se descobrirá toda a verdade. sempre que algum ex-agente secreto decide pôr em livro alguns dos episódios que viveu, percebemos facilmente que a verdade é bem diferente daquela que se tinha como absoluta e definitiva.
é natural que as pessoas utilizem argumentos religiosos, filosóficos ou políticos para defender a sua dama. mas outra coisa é pretender-se que esses mesmos argumentos são verdades universais. o mundo não foi feito para termos acesso imediato às tais verdades.
se assim fosse, a história perderia o seu espaço e os blogues, as redes sociais e a comunicação social substituíam-na. aos profissionais da imprensa cabe denunciar situações de que têm conhecimento. a opinião pública fica com mais informação para formar o seu juízo. os tribunais decidirão de sua justiça e a história encarregar-se-á de juntar as várias peças do puzzle. sem comentadores apaixonados pela sua verdade absoluta.