Jogar o futuro

São cada vez mais os que não querem saber de política, apesar do futuro ficar ou não comprometido pelas decisões dos governantes.

é comum as pessoas dizerem que não ligam à política e muitas chegam ao ponto de se orgulharem de nunca ter votado. desiludidas ou simplesmente alheadas da realidade, optam por não se preocupar com os eleitos que tomarão as decisões que irão influenciar as suas vidas.

este deixa andar só é interrompido quando o desemprego ou a criminalidade atingem números preocupantes. o que é o caso actual. por mais que a população não queira ver, os factos entram pela casa adentro.

o estado actual dos países não é, seguramente, culpa exclusiva dos governantes presentemente no poder, já que ao longo das últimas décadas se tomaram muitas decisões que nos trouxeram até aqui. mas é indiscutível que quando as luzes de alarme se acenderam, muitos dos actuais governantes europeus assobiaram para o lado.

portugal tem vivido numa autêntica mentira e não tem sido por isso que, ano após ano, o número de faltosos aos actos eleitorais tem diminuído.

quando se decide reduzir a frota pesqueira ou aceitar dinheiro para deixar os campos sem serem cultivados, está-se a comprometer o futuro. quando se opta por apostar numa via rápida de caminhos-de-ferro que levam a lado nenhum no que ao interesse nacional diz respeito, estamos a hipotecar o futuro de várias gerações.

o mesmo se passa com a compra de submarinos, ou a construção de aeroportos desnecessários ou de localização desastrosa. «isso é coisa de políticos e não estou nada interessado», ouve-se com alguma frequência. o problema é quando, para pagar esses desvarios, é necessário aumentar impostos, reduzir salários e despedir pessoas.

curiosamente, sempre que aparece um político desalinhado ou um economista que diz que caminhamos alegremente para o abismo, logo as máquinas partidárias entram em acção para os desacreditar. é assim com as anas gomes e os medinas carreiras deste país. outros há que são acusados de estarem contra esta ou aquela medida por serem adeptos do partido contrário e estarem a defender os interesses deste.

há medidas que nos vão afectar a todos e que irão implicar ainda mais o empobrecimento do país. um país que precisa de todos a puxar para o mesmo lado. mas o que dizer de uma nação que concorre à realização de uma taça que é a terceira a nível mundial no que respeita a impacto mediático, usando armas de pólvora seca quando dispõe de um arsenal digno de enfrentar os melhores exércitos? falo da ryder cup, a prova de golfe que opõe a selecção da europa à dos eua.

quando no algarve há campos de golfe que, com pequenos melhoramentos, podem ser dos melhores do mundo, apostamos numa região que terá um campo daqui a uns tempos e cujo acesso é feito de barco ou por uma estrada nacional. falo da comporta, com que simpatizo, mas que não terá qualquer hipótese de trazer para o país os milhões de que tanto necessitamos.

vitor.rainho@sol.pt