dois anos após a nacionalização e depois de duas tentativas falhadas de privatização – por falta de interessados –, o bpn está, finalmente, prestes a ser um ‘bom banco’, livre dos chamados activos tóxicos e recapitalizado. a garantia foi dada ao sol por fontes da administração do bpn, liderada por francisco bandeira, que na última semana voltou a estar sob fogo cruzado na praça pública, ocupando o centro da campanha presidencial.
sem outra solução possível, o objectivo do governo – que aguarda o parecer do banco de portugal para realizar um aumento de capital de 500 milhões de euros no bpn, que deverá acontecer no final deste mês – será, depois de concluído este processo, ficar com o banco ‘bom’ a operar na esfera do estado, mas fora da cgd, segundo fontes próximas do executivo.
a ideia será autonomizar a gestão da instituição – até porque a actual administração da caixa, mandatada temporariamente para gerir o bpn depois da intervenção estatal, está a terminar –, mudar a marca (que está desvalorizada no mercado) e tornar a instituição rentável, para mais tarde, eventualmente, voltar a tentar vendê-la a privados.
o ‘novo’ banco do estado, que tem actualmente perto de 220 balcões, 300 mil clientes e três mil milhões de euros de depósitos, deverá ser orientado, sobretudo, para o segmento das pequenas e médias empresas. a incorporação da cgd não estará, neste momento, a ser equacionada pelo governo, nomeadamente, devido à alegada falta de sinergias entre as duas instituições.
a suspeita de que a cgd tenha ‘roubado’ clientes e depósitos ao bpn tem sido levantada nos últimos meses no mercado, e esta semana foi a vez de fernando ulrich, ceo do bpi, questionar: «para onde foram os depósitos do bpn? para a caixa». mas a actual administração do bpn rejeita este cenário por completo. «infelizmente os depósitos não vieram para a caixa», ironiza um dos administradores, argumentando que «os clientes estavam no bpn porque tinham melhores rentabilidades do que na concorrência e saíram para outras instituições que lhes ofereciam algo parecido, que não é o caso da cgd».
não houve atrasos, diz gestão
os dois anos necessários para tornar o bpn num ‘banco bom’ são justificados de várias formas pela administração de bandeira, mas sempre rejeitando as críticas de que houve atrasos devido ao facto de três dos sete membros acumularem funções no bpn com cgd.
«quando o banco foi intervencionado pelo estado por haver risco sistémico, fizemos uma primeira avaliação da situação patrimonial e foram detectadas situações muito complexas, com várias e graves responsabilidades que não estavam no banco, como por exemplo o insular e cerca de 100 offshores, cujos créditos não estavam atribuídos ao verdadeiro devedor, mas sim através de testas-de-ferro. o processo de identificação não foi simples», diz um dos intervenientes, dando conta de que, no final, com o apoio das autoridades cabo-verdianas e dos accionistas, a liquidação do insular acabou por correr bem, com o resgate para o bpn de activos com um valor bruto na ordem dos 600 milhões de euros, ainda que de má qualidade.
as eleições legislativas em 2009 e a montagem do processo de privatização (com base na lei 11/90), «que foi bastante complexa», são outros dois argumentos apontados para a demora. «mas, depois de falhada a privatização, concluída a 30 de novembro, a administração do bpn começou a implementar um processo de ‘limpeza’ do banco, através da transferência dos chamados activos ‘stressantes’ para um conjunto de três sociedades veículo e em um mês terminámos este processo».
agora o banco individualmente está ‘limpo’, mas nas actuais condições ainda não pode funcionar. precisa de ser capitalizado para cumprir os rácios de solvabilidade (mínimo de 8%) exigidos pelo banco de portugal (ver texto em baixo na página ao lado).