tão ou mais chocante que a execução de salman taseer é o programa político-religioso por trás deste acto ignóbil: um fanatismo sem limites que sequestra os muçulmanos moderados pela mensagem de ódio e preconceito. mas ainda que os fundamentalistas sejam uma minoria são sempre em número demasiado: o assassino confesso chegou a ter mais de dois mil fãs no facebook em poucas horas (até à página ser desactivada) e recebeu manifestações de apoio nas ruas de uma chusma que incluía advogados na defesa de uma lei incompatível com os direitos fundamentais.
o que fez o progressista salman taseer para merecer a ira dos terroristas que actuam em nome do islão? foi visitar aasia bibi, uma paquistanesa cristã condenada à morte por enforcamento pelo crime de blasfémia. e criticou o quadro legal que, como na idade média, pode atirar um inocente para a fogueira só pelo facto de haver uma queixa contra si. os costumes seculares da família taseer – próxima dos bhutto – irritavam os seus detractores. mas o governador vivia sem medo. chegou a dizer numa mensagem no twitter que recebeu muitas pressões para não manifestar apoio a bibi, mas que teria de fazê-lo, «nem que fosse o último homem a tomar posição». é altura de tirar o pó à sentença de karl popper: «devemos afirmar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar os intolerantes».