«ele sempre nos falou desses pagamentos e há mesmo fotos dele num casting para promover boxers da marvel. ele sabia que a vida de modelo é temporário e estava a apostar», explica joana seabra, irmã do jovem..
nova iorque seria ‘a grande oportunidade’
veio o natal e castro, que sempre quis estar nas boas graças da mãe do jovem, ligou a odília para desejar boas festas. a seguir, partiriam para nova iorque – a primeira grande viagem que faziam juntos. antes, já tinham passado fins-de-semana – em meados de novembro em londres, e no início de dezembro, em madrid. «sei que em londres foram ver o fantasma da ópera, que o carlos já tinha visto dezenas de vezes, mas o renato queria ver. o carlos não era rico, queria apenas proporcionar-lhe prazer e as coisas boas da vida», assegura eládio.
para joana, a ida a nova iorque era mais uma oportunidade para o irmão: «era suposto passarem o ano com uns amigos do senhor castro e ficarem mais uma semana, para ele o apresentar a algumas agências». tinham regresso marcado para 15 de janeiro (a tempo de renato cumprir as suas obrigações na campanha presidencial de cavaco silva, da qual é mandatário da juventude em cantanhede).
os amigos contam que carlos castro, um habitué de nova iorque, desta vez pouco esteve com eles, evitando-os. mas, nas mensagens que enviou aos amigos dizia-se sempre muito apaixonado, assegurando que estava tudo a correr bem. com renato, foi ver a equipa dos nicks numa partida de basquetebol, o musical spider-man e o filme o cisne negro. «ele disse-me que também andavam a fazer muitas compras. pareceu-me estar muito bem, muito entretido e feliz. por isso, não insisti para nos encontrarmos, como era habitual», confessa um dos amigos de castro em nova iorque.
já loris diran, designer de moda na cidade norte-americana, estranhou quando soube que o amigo de há mais de dez anos estava lá e não o contactara. «era um homem simples, nada glamouroso. via-o como um senhor simpático, mais velho, que gostava muito de ir a cabarets e a clubes gay», recorda. «mas sempre senti que ele ficava deslocado. junto dos homossexuais americanos, sempre muito atléticos, ele era muito diferente. e parecia sentir-se estranho naqueles ambientes, até porque ali ninguém o conhecia e ele falava mal inglês. mesmo assim gostava de estar ali, daquela cultura gay».
o designer estranha ainda mais o facto de carlos ter ido jantar ao polino’s – um restaurante muito na moda em nova iorque e onde terá ocorrido a primeira de várias discussões com renato – e nem lhe ter ligado nessa altura. «esse restaurante fica mesmo ao pé da minha loja… algo ali correu muito mal», assevera. «mas isto acontece muito no mundo da moda: uma pessoa mais velha que de algum modo tem poder e troca-o por beleza. são casos que nunca terminam bem».
carlos castro, de facto, sentia-se atraído por homens mais novos. e por vezes só os alcançava pagando. algumas testemunhas do processo casa pia conheceram-no adolescentes, no parque eduardo vii, em lisboa, por onde costumava deambular.
na véspera do ano novo, renato passou o dia no computador, a enviar mensagens pelo facebook, dizendo-se ansioso por voltar a portugal. às 23h57, tem a atenção em catarina sousa: «olá!! tudo bem? quando é que marcamos outra noite de dança todos juntos outra vez? desejo-te boas entradas. beijinhos». e no primeiro dia de 2011 acorda cedo e retoma a conversa com ela às dez da manhã: «és muito fotogénica nas fotos!! olha, pedi o teu número de telemóvel às tuas amigas. mas diz-me tu, para confirmar».
(versão alterada)
felicia.cabrita@sol.pt com raquel.carrilho@sol.pt