Nas Bocas do Mundo – Leila Trabelsi

A mulher do ditador Ben Ali conseguiu ser mais odiada que o marido durante os 23 anos em que os tunisinos se submeteram ao pulso de ferro do casal.

filha de um vendedor de fruta, leila era cabeleireira em meados dos anos 80, altura em que se relacionou – engravidando – com o então casado general. pouco depois, este atirou borda fora o fundador da tunísia moderna habib bourguiba, tomou as rédeas do país e casou-se com a profissional dos cortes de cabelo. de então para cá foi um fartar vilanagem que nem a fuga estancou. segundo a secreta francesa, a ‘regente de cartago’ levou para o exílio saudita o equivalente a 45 milhões de euros em barras de ouro.

não era segredo que a família se locupletava com os negócios do país, mas nos últimos anos a internet espalhou informação e acelerou a erosão do casal presidencial. a machadada foi dada pelo wikileaks: «muitas vezes referida como uma quase-máfia, uma menção oblíqua à ‘família’ é suficiente para indicar de que família se quer falar. aparentemente metade da comunidade empresarial tunisina pode reivindicar uma conexão a ben ali através de casamento (…). a mulher de ben ali, leila ben ali, e a sua família – trabelsi – provocam a maior ira aos tunisinos». o sistema de corrupção e nepotismo montado pela ‘regente’ – leila fazia e desfazia carreiras políticas – pode ter chegado ao fim, o que é um aviso aos regimes autoritários. mas é também demonstrativo de que se está em terreno fértil para o fundamentalismo, sob a capa da regeneração, poder esmagar os valores democráticos.