nas três décadas de regência de hosni mubarak, os estados unidos investiram 600 mil milhões de dólares no egipto, boa parte canalizada para alimentar o exército de meio milhão de soldados. sendo o país mais populoso do médio oriente – com 80 milhões de habitantes, dos quais 29% têm menos de 30 anos –, duas outras características tornam-no um aliado de peso: o interesse geoestratégico do canal do suez e ter assinado um tratado de paz com israel.
não por acaso, barack obama escolheu em 2009 a universidade do cairo para apresentar ‘um novo começo’, peça de oratória na qual apelava para um entendimento entre o ocidente e o mundo islâmico. «forma alguma de governação pode ou deve ser imposta por uma nação a qualquer outra», proclamou então o presidente dos eua.
tentando equilibrar os interesses contraditórios em jogo, a reacção de washington foi desconcertante. «o governo do egipto é estável e procura responder aos interesses e necessidades legítimos do povo», disse ao primeiro dia de protestos, 25 de janeiro, a secretária de estado. no domingo, um dia após mubarak ter mudado o governo e criado o cargo de vice-presidente, clinton falou pela primeira vez em «transição ordeira». na terça-feira, após o presidente egípcio frustrar o povo em revolta ao anunciar apenas que não se recandidatará, o homólogo de washington disse esperar uma «transição ordeira que deve ser significativa, pacífica e deve iniciar-se agora».
com o irromper da violência entre as facções pró e anti-mubarak, as declarações tornaram-se a princípio vagas, até se saber, na quinta-feira, que a secretária de estado telefonou ao vice omar suleiman instando-o a pôr ordem nas ruas. e o porta-voz da casa branca foi ácido: «está um calor anormal para a época, mas não estamos em setembro. agora é agora», disse robert gibbs, rejeitando a data proposta por mubarak para eleições.
se os eua fizeram uma pirueta diplomática em menos de uma dúzia de dias – irritando outros aliados musculados –, israel, nas palavras de um diplomata, teve um «início de ataque de pânico». telavive evita falar sobre o assunto: «esperamos de qualquer governo egípcio que honre a paz», disse o primeiro-ministro netanyahu.
a união europeia manteve um comprometedor silêncio de quase uma semana – quebrado no sábado por um comunicado conjunto de david cameron, angela merkel e nicolas sarkozy apelando a um «processo de mudança». mensagem repetida na quinta-feira, desta feita também com as assinaturas de zapatero e berlusconi.