Sofia Gubaidulina, compositora russa aclamada, homenageada no CCB

Para os apreciadores de música erudita, o ciclo dedicado a Sofia Gubaidulina que amanhã se inaugura no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, é uma ocasião histórica. «Ela é uma das compositoras mais importantes dos últimos 50 anos e é uma figura incontornável da música», começa por explicar Filipe Pinto Ribeiro, pianista e director artístico…

agendados estão quatro concertos, a exibição de um documentário e um encontro da compositora com o público. o acontecimento assume ainda destaque redobrado porque sofia gubaidulina celebra o seu 80.º aniversário este ano e estará presente em todos os concertos, participando, inclusive, no espectáculo de quarta-feira, dia 9.

explicar a importância de gubaidulina a quem não aprecia ou desconhece música clássica é, diz o responsável, «bastante fácil». além de ter uma carreira recheada de distinções – entre 1987 e 2009 recebeu nove prémios internacionais –, a música da compositora é, segundo pinto ribeiro, «intensa» e «não deixa ninguém indiferente». «após uma audição não somos os mesmos. é uma música que chega a toda a gente». uma característica, acrescenta o pianista, que a compositora transporta da herança de bach para o seu trabalho, por ser «uma das suas grandes inspirações».

sofia gubaidulina nasceu na cidade tártara de chistopol, na rússia, e frequentou a escola de música infantil de kazan, capital da república tártara, a partir dos seis anos. depois dos estudos de piano e composição na região de origem, gubaidulina partiu para moscovo para continuar a trabalhar como aspirante com o compositor soviético vissario shebalin. quando este morreu, em 1963, gubaidulina começou a ganhar vida como compositora em nome próprio, criando música para filmes e, ao mesmo tempo, acrescentando títulos à sua lista de obras.

nas suas peças expressou todas as suas motivações, nomeadamente as religiosas. «ela tem uma personalidade muito profunda e espiritual devido às suas raízes tão distintas. o pai era muçulmano, a mãe tinha ascendência judaica e ela, já na idade adulta, converteu-se ao cristianismo ortodoxo russo», explica pinto ribeiro, garantindo que a herança familiar da compositora «influencia a sua música, dentro de um grande conceito religioso e espiritual».

perceber a relevância de gubaidulina é ainda compreender que «uma mulher compõe de forma diferente de um homem», e a compositora russa é a «primeira mulher na história da música clássica a ser reconhecida e aceite por toda a comunidade artística, na sua grande maioria masculina».

alexandra.ho@sol.pt