sou apaixonada por séries e o meu último amor chama-se mad men, que conta as aventuras do publicitário don draper e da sua equipa na américa dos anos 60, década em que o delírio pelo sonho americano viveu o seu apogeu: os homens trabalhavam na cidade para proporcionarem à família uma boa vida nos subúrbios, para onde regressavam no famoso comboio das 5h45.
don draper é alto, esbelto e talentoso, como ditam as regras do sonho americano, mas podia muito bem ser o príncipe dos romances de barbara cartland. e como muitos heróis, apesar de ter o emprego perfeito, a mulher perfeita e três filhos perfeitos, também tem um passado complicado que lhe atormenta a existência.
depois de inúmeros casos fugazes com namoradinhas que fumavam erva e clientes ricaças, don draper vê a mulher partir, farta de aturar a solidão neurótica dos subúrbios e a vida dupla do marido. enquanto ela parte porque encontrou outro homem que promete tomar conta dela, don continua a sua vida errante saltando de mulher em mulher. mas eis que a próspera agência que fundou perde o seu cliente principal, passando pela maior crise de sempre. don está de caso com uma mulher bonita, inteligente e independente que se preocupa com ele e que, pertencendo ao mesmo métier, o ajuda com contactos profissionais. na vida de don existe também megan, a secretária alta, bonita e de dentes de coelho, com quem já tinha dormido, mas a quem não liga nenhuma.
no auge da crise profissional, don faz uma viagem à califórnia com os filhos e pede à secretária que seja a babysitter a troco de mais uns dólares. fragilizado com a sua situação, sentindo-se perdido e desprotegido, don vê em megan a solução para a vida: ao contrário da namorada, esta mulher não lhe faz perguntas sobre o passado nem o confronta em relação a nada; é dócil e generosa, revelando jeito e paciência para cuidar das crianças, que parecem gostar da companhia dela. é o quadro perfeito ao qual don não resiste. na última noite do fim-de-semana decide pedi-la em casamento, para grande espanto da própria, terminando a anterior relação assim que regressa a nova iorque.
o que leva don draper a fazer esta opção? se sexo e a cidade se tornou um manual para perceber as mulheres, mad men é um guia útil para conhecer os homens. entre uma mulher inteligente e independente com quem mantinha uma relação intelectualmente estimulante e uma boneca com os atributos para ser esposa dedicada, dona de casa perfeita e madrasta boazinha, don nem sequer hesita. e megan realiza o seu sonho americano; afinal de contas, vale a pena investir numa carreira de secretária para fazer um bom casamento. que mais pode desejar uma rapariguinha com um salário de 70 dólares por semana?
a escolha da personagem é realista e terrivelmente real: don opta pelo que pensa ser mais cómodo e fácil, tal como muitos homens. o conforto da cama, mesa e roupa lavada parece falar mais alto do que uma relação de igual para igual. mas não lhe dou mais do que três episódios para que comece a enfastiar-se da vida de casado e tente voltar para os braços da ex-namorada.