a eleição presidencial foi um belo retrato do país. como o resultado não foi o mais desejado para alguns dos comentadores encartados, logo passou a ser lei que a mesma não faz qualquer sentido e que o cargo é meramente decorativo. curiosa observação, já que se em vez de cavaco silva fosse outro o eleito pelo povo português, a mesma teria sido um acto de grandeza da nação. independentemente do resultado final, não deixa de ser surpreendente como os argumentos são tão voláteis. digamos que estamos a viver o momento da chiclete, que é como quem diz, mastiga e deita fora. não há distanciamento e os argumentos utilizados estão em sintonia com as conveniências do momento.
josé manuel coelho, um artista financiado pela extrema-direita madeirense e que foi ou é militante do pcp, mereceu os votos de quase cinco por cento dos votantes e logo houve quem tivesse afirmado que os mesmos, os votos, claro, reflectiam o sentimento de desilusão dos portugueses em relação aos políticos. confesso a minha estranheza por tão astuta conclusão. a mim fez-me lembrar os tempos de estudante, em que apareciam sempre umas listas concorrentes à associação de estudantes que defendiam a construção de uma piscina no lugar do espaço de recreio, o fim da obrigatoriedade de assistir às aulas e outros disparates semelhantes. claro que essas listas conquistavam sempre um número considerável de votos. o direito ao disparate é universal, mas as listas que acreditavam numa vida melhor na escola, aquelas que eram independentes das jotas tontinhas, acabavam por ganhar e fazer coisas interessantes. defendiam rádios escolares, direito a tempos livres didácticos, jogos desportivos inter-escolas e, mais importante, lutavam contra a prepotência de algumas luminárias que queriam fazer da escola um espaço político. tinham ideias e tudo faziam por levá-las à prática. josé manuel coelho foi, sem dúvida, o palhaço de serviço que muitos acharam ‘usável’ para porem em cheque aquele que seria o provável vencedor.
mas se na escola aqueles que votavam nos palhaços de serviço acabavam por reconhecer a legitimidade dos vencedores, nas eleições presidenciais os derrotados tentaram achincalhar um acto tão importante da democracia que é a eleição do presidente. o cargo não é importante? quem é que dissolveu uma assembleia da república e por arrastamento inevitável o governo folclórico de santana lopes? um presidente de nome jorge sampaio. que por sinal ouviu, entre outros, os apelos de um homem que estava retirado da vida política e que alertara para os perigos da má moeda. os interesses momentâneos são as verdades absolutas de muitos.
vitor.rainho@sol.pt